As instalações da desativada fábrica de calçado Rohde, em Santa Maria da Feira, foram vendidas por 1,52 milhões de euros, mas o sindicato que representa os 984 ex-trabalhadores com créditos atrasados antecipa que pouco desse valor lhes estará reservado.
Em causa está a empresa que, tendo chegado a ser a maior empregadora nacional no setor do calçado, foi declarada insolvente em 2009 e acabou por encerrar um ano depois.
"As instalações foram vendidas por 1,52 milhões de euros, mas esse dinheiro vai logo para pagar todas as custas do processo, que dura há anos", declarou hoje à Lusa Fernanda Moreira, da direção de Aveiro do Sindicato Nacional dos Profissionais da Indústria e Comércio de Calçado, Malas e Afins.
"Só depois disso é que a administradora judicial apresenta contas e vê o que sobra, mas de certeza que vai ficar pouco para pagar aos trabalhadores", realça a sindicalista.
Fernanda Moreira entende ainda que o imóvel foi vendido "muito barato", lembrando que o mesmo chegou a estar avaliado em cerca de sete milhões de euros.
Em declarações à Agência Lusa, a administradora judicial da Rohde, Conceição Santos, também reconheceu que o valor da proposta apresentada fica aquém do previsto inicialmente, mas considera que é um montante "aceitável".
"Tenho consciência que os credores podiam pensar que se calhar podiam obter mais, mas o tempo aqui também está a correr contra nós, porque o edifício está a degradar-se e já havia lá muitos assaltos", referiu Conceição Ferreira.
A administradora judicial da Rohde lembrou ainda que tentou vender as instalações da fábrica várias vezes, mas não houve interessados.
"Mandei cartas a embaixadas e grandes empresas a nível nacional, no sentido de propor a aquisição da Rohde, mas não obtivemos qualquer resposta", disse.
No total, o património total da empresa detida pela multinacional alemã representará cerca de quatro milhões de euros, ainda por distribuir pelos ex-funcionários da casa, que são os seus únicos credores. O montante global das indemnizações reclamadas por esses trabalhadores ronda, no entanto, os 14 milhões de euros.
Ao anúncio público de venda do complexo industrial da Rohde começaram por ser apresentadas duas propostas, entre as quais a de valor mais alto era a da empresa IMOGT Lda. - que também é de Santa Maria da Feira e integra o Grupo Tagal, especializado no aluguer de gruas e outros equipamentos de elevação de cargas.
A gestora judicial definiu então novo concurso público de venda pelo valor mínimo inicialmente proposto pela IMOGT, que, sendo a única a responder ao apelo, deverá agora formalizar a aquisição por 1,52 milhões de euros.
Segundo a administradora judicial da Rohde, o negócio já foi aprovado por dois dos três membros da comissão de credores, faltando ainda ouvir o terceiro elemento.
A adquirente já adiantou, aliás, 20% do preço da compra, pelo que, uma vez homologado o contrato pelo tribunal, a transação deverá ficar concluída até 11 de março com a devida escritura. "Só depois é que se fazem as contas ao certo", adianta Fernanda Moreira.
Contactada pela Lusa, a administração do Grupo Tagar não quis prestar declarações sobre o destino a dar ao complexo industrial de que passará agora a ser proprietária.