Durante cerca de 10 minutos caíram pedras de gelo com muita intensidade e comprometeu a produção deste ano em quase metade da área de pomares do concelho.
Os produtores de maçã de Carrazeda de Ansiães andaram, esta segunda-feira, a fazer tratamentos nos pomares para tentar atenuar os prejuízos causados por uma violenta queda de granizo, no passado sábado. Bastaram 10 minutos para arrasar até 90% da produção numa área significativa do concelho.
Os fruticultores Luís Vila Real e Duarte Borges não têm dificuldades em encontrar frutos danificados, porque, na verdade, são poucos os que não apresentam marcas das pedras de gelo que teriam o tamanho de "azeitonas". As maçãs são, por esta altura, ainda muito pequenas, e, por isso, cada bola de granizo que lhes acertou provocou danos irreparáveis.
Não é que os fruticultores de Carrazeda de Ansiães não estejam já habituados à queda de granizo na primavera, por vezes com contornos desastrosos, mas desta vez teve "uma intensidade fora do normal no concelho", diz Luís Vila Real, que é o presidente da Associação dos Fruticultores, Viticultores e Olivicultores do Planalto de Ansiães (AFUVOPA).
O responsável acrescenta que o granizo afetou "seguramente cerca de 90% da área" onde foi registado o fenómeno meteorológico e "com prejuízos bastante avultados". Estão abrangidos pomares situados nas zonas de Fontelonga, Selores, Seixo, Carrazeda e Belver.
Luís Vila Real não tem dúvidas de que o granizo "comprometeu a produção do ano". A situação vai implicar "uma perda bastante acentuada de rendimentos dos agricultores", o que, "no atual cenário, torna as coisas ainda mais difíceis". Isto porque já estão a ser afetados pelo "aumento do preço das matérias-primas, combustíveis, fertilizantes e mão-de-obra".
Os agricultores contam com o dinheiro feito com a produção para fazerem face às despesas, mas se elas estão já comprometidas no início da campanha, as coisas ficam "extremamente mais difíceis para toda a gente".
Os técnicos da AFUVOPA e da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte já andaram a avaliar os prejuízos nos pomares afetados. Luís Vila Real aponta para perdas de "acima de 80%" e, em alguns casos, "acima de 90%". As pequenas maçãs apresentam "toques muito profundos, algumas até estão cortadas, e ficaram irrecuperáveis para efeitos comerciais".
O dirigente sublinha que o mercado "pressiona o agricultor para produzir fruta de primeira qualidade, sem toques, perfeita". Ora, "com marcas de granizo nunca vai ser possível apresentar um fruto de grande qualidade e será, na sua maioria, rejeitado".
Os fruticultores estão a ser aconselhados pelos técnicos da AFUVOPA a aplicarem nas macieiras atingidas "um fungicida com um fertilizante à base de cálcio para tentar cicatrizar e minimizar os problemas fisiológicos da planta". É que as pedras de granizo danificaram "o fruto, a folha e a madeira" das árvores. As feridas provocam "problemas fisiológicos na planta e podem ser porta de entrada de doenças e comprometer o desenvolvimento".
Para além de macieiras, Duarte Borges também tem cerejeiras, na zona da Fontelonga. "A cereja já estava bastante grande e pouca deverá aproveitar-se", enquanto "a maçã também ficou muito danificada".
A AFUVOPA faz todos os anos um seguro de colheitas coletivo, embora Luís Vila Real entenda que o modelo "não serve os interesses dos agricultores". Salienta que, por um lado, "só há lugar a indemnização quando os prejuízos são iguais ou superiores a 20% da produção" e, por outro, "só é pago 80% do valor da indemnização apurada". Daí que entenda o seguro, apenas, como uma "válvula de escape" para o agricultor em situações como a que aconteceu no fim de semana.
Em suma, "é um risco fazer o seguro e é um risco não o fazer", atendendo aos "preços que as companhias de seguros vão subindo cada vez mais", pelo facto de o concelho de Carrazeda, tal como outros, terem "um índice de sinistralidade muito elevado".
O concelho de Carrazeda de Ansiães terá, atualmente, cerca de 800 hectares de pomares de macieiras instalados, que produzem entre 25 mil e 30 mil toneladas de maçã por ano. Aproximadamente 60% pertencem aos 250 sócios da AFUVOPA.