Lisboa

Residência de estudantes com quartos a 1096 euros gera indignação

Residência de estudantes com quartos a 1096 euros gera indignação

A inauguração de uma residência privada para estudantes universitários pelo presidente da Câmara de Lisboa, onde os preços dos quartos variam entre 650 e 1096 euros, causou indignação na rede social Twitter de Carlos Moedas. Associação Académica da Universidade de Lisboa diz que este género de habitação "não pode ser vendido como uma solução para a crise habitacional estudantil".

Uma publicação de Carlos Moedas na rede social Twitter, depois de marcar presença na inauguração da residência privada de estudantes "Nido Campo Pequeno", gerou centenas de reações da comunidade estudantil. "Soluções para habitação estudantil, uma residência onde cada quarto custa mais por mês do que uma propina anual? Ganhe vergonha por favor", é um dos 543 comentários que se pode ler na mensagem publicada pelo autarca, na sexta-feira passada.

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"Pelo aposento mais barato, se for um trabalhador-estudante a ganhar um ordenado mínimo, ainda sobram 65 euros ao final do mês para comer" ou "não tens vergonha de associar o teu nome a uma coisa destas" e "700 euros (no mínimo) é preciso não ter pingo de vergonha" são outras das reações à publicação.

"Inaugurámos a nova Residência de estudantes no Campo Pequeno. Trabalhamos diariamente para aumentar a oferta de habitação: através do setor público e do privado, do setor social e cooperativo", escreveu Carlos Moedas.

"Preços proibitivos"

O presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa (AAUL), Afonso Garcia, considerou a "situação lamentável". "São preços proibitivos para o estudante deslocado comum. Este tipo de residências pode diminuir a pressão sobre o mercado de habitação, mas não pode ser vendido como uma solução para a crise habitacional estudantil em Lisboa. Isto foi o que gerou uma grande revolta na publicação do presidente Carlos Moedas", disse ao JN Afonso Garcia.

O presidente da AAUL diz que "estes quartos são sobretudo acessíveis aos estudantes Erasmus que têm uma condição de vida superior aos estudantes deslocados portugueses", sendo "os estudantes portugueses que conseguem arcar com estes valores uma minoria". O estudante universitário considera ainda que se devem apresentar "mais propostas habitacionais realistas que sirvam a comunidade estudantil".

A Federação Académica de Lisboa (FAL) recusou ir à inauguração. A presidente da FAL, Catarina Ruivo, explicou ao JN que receberam o convite, mas decidiram não comparecer. "Percebemos a intenção da nova residência e da parceria da Câmara e decidimos que não nos fazia sentido ir. Este tipo de residências é desadequada aquilo que é o poder de compra dos estudantes em Lisboa. A grande maioria das famílias dos estudantes que estudam em Lisboa não tem esta capacidade (económica)", lamentou.

"Dos 695 aos 1096 euros"

No site da residência "Nido Campo Pequeno", há neste momento quartos disponíveis a preços que variam entre 695 euros por mês (com 12 metros quadrados, casa de banho privativa e cozinha partilhada) e 1096 euros (com 15 a 16 metros quadrados e cozinha e casa de banho privativas). Em qualquer opção, todos os interessados têm de pagar uma caução de 800 euros.

Mário Prazeres, 34 anos, estudante brasileiro a viver em Portugal, vive na residência Nido e está satisfeito. "Os preços dos quartos que vi, inicialmente, eram muito elevados também e em prédios muito antigos. Aqui, além do quarto, tenho lavandaria, ginásio, sala de estudo, limpeza dos quartos e a localização é muito central. Estou muito satisfeito", contou ao JN o universitário, que paga 650 euros por um quarto com casa de banho privativa.

Mais 1340 camas

O JN enviou várias questões à Câmara de Lisboa sobre os valores dos quartos, mas a Autarquia remeteu a resposta para a residência privada. Questionada ainda sobre planos para aumentar a oferta de quartos a preços acessíveis para estudantes universitários, o município disse que tem previstas 1340 camas.

"Este ano vai ser terminada a residência universitária da Alameda, com 320 camas, tendo a autarquia mais 900 camas em projeto. Acresce que a Câmara Municipal de Lisboa cedeu também um terreno à Junta de Freguesia de Benfica, destinado à construção de uma residência para estudantes com 120 camas", avançou.

A Autarquia diz ainda que "o investimento foi exclusivamente privado". "Reforçamos que o trabalho para aumentar a oferta a este nível deve ser feito em todas as frentes, com os contributos de todos os setores e não marginalizando ninguém. Sem complexos e agradecendo o investimento totalmente privado, que neste caso ascendeu a 150 milhões de euros na cidade", esclareceu.

Fonte oficial da Nido/Round Hill Capital diz ao JN que "os valores indicados pelo aluguer dos quartos foram estabelecidos com base numa análise de mercado comparativa, de acordo com as suas tipologias, e incluem todas as despesas associadas, desde água, luz e internet, e ainda ginásio, atividades para a comunidade, salas de estudo, sala de cinema, salas de TV, sala de jogos, etc".

"A residência Nido Campo Pequeno abriu em setembro de 2022 e tem, atualmente, uma taxa de ocupação próxima dos 100%, entre estudantes nacionais e estrangeiros", avança ainda.

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