José Moura, presidente do Lar do Comércio, em Matosinhos, há 29 anos, retirou a sua candidatura às próximas eleições, depois da entrega de uma segunda lista, por considerar "não ser tempo de disputas eleitorais". A instituição registou mais de 100 infetados por covid-19, entre utentes e funcionários, e 24 idosos morreram com a doença.
"O desgaste físico, psicológico e emocional deste ano foi enorme para esta direção. Os riscos e os perigos da pandemia são enormes, não é tempo de disputas eleitorais", refere José Moura, na carta em que dá conta da sua decisão ao Conselho Geral, citada pela Lusa.
José Moura entregou a sua recandidatura a 11 de novembro, mas decidiu retirá-la depois de, na semana passada, se apresentar a eleições uma segunda lista encabeçada por António Bessa que, em 2017, se despediu do cargo de vice-presidente por não concordar com "algumas coisas que lá se passavam". As eleições para o mandato 2021/2024 estão agendadas para 18 de dezembro.
"Este ano, assumindo que, mais uma vez, nenhuma alternativa se apresentaria, entregámos a nossa candidatura, de modo a que as nossas responsabilidades não fossem deixadas ao acaso e não se confrontasse a instituição com um vazio cujo ónus recairia certamente para nós", justificou, na missiva, lembrando que a falta de alternativas motivou, nas duas últimas eleições, a sua recandidatura. Mas, constatando que a 16 de novembro outra lista entrou nos serviços, decidiu retirar a sua, explicou José Moura.
O atual presidente fala em quase 30 anos de "árduo trabalho", sublinhando que este último ano, em que surgiu a pandemia de covid-19, exigiu uma "força e resiliência que ninguém pode imaginar".
"Fruto da boa e constante gestão que levámos a cabo, pudemos responder à crise do coronavírus e contratar recursos extraordinários que nos permitiram controlar a pandemia que ameaçava dizimar os nossos utentes", frisou. Para José Moura, "foram e são tempos muito perigosos". O ainda presidente garantiu deixar a instituição com "estabilidade económica e financeira".
"Violação grave" de direitos humanos
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados divulgou um relatório segundo o qual tinham sido detetados indícios de "violação grave" de direitos humanos no Lar do Comércio e o "incumprimento reiterado" de orientações recebidas em vistorias.
Depois de o Ministério Público instaurar um inquérito à instituição, fonte Lar do Comércio disse à Lusa que uma diretora técnica da instituição foi constituída arguida, acrescentando que a própria instituição não foi constituída arguida no inquérito criminal em curso no Departamento de Investigação e Ação Penal de Matosinhos, mas admitiu que dirigentes do lar venham a ser ouvidos pelo procurador.