Viveram-se momentos de "grande aflição", na madrugada desta quinta-feira, no Centro Histórico do Porto, com um incêndio que deflagrou num prédio na Rua de S. Sebastião, na Sé, onde vivem dez pessoas.
Tiago Campos tem o olhar cansado, mas não arreda pé da rampa que dá acesso ao prédio onde vive há dez anos, mesmo em frente à Sé Catedral do Porto, e que ardeu na madrugada desta quinta-feira.
Conta que já repetiu "demasiadas vezes" aquilo que aconteceu, "os momentos de pânico" que o levaram a arrombar a porta do vizinho do lado para resgatar Luís Nunes, de 84 anos.
Mas mal uma técnica da Junta do Centro Histórico do Porto lhe pediu para confirmar quantos habitam a casa, volta a dizer: "Somos cinco pessoas, um casal e três filhos, mais três cães".
Ao lado, Aurora Nunes, 64 anos, ainda não está refeita do "susto" que apanhou. "Acordei com o barulho dos cães a ladrar e senti que havia confusão na rua. Quando desço para a rua para ver o que se passava já vi o prédio onde o meu pai mora a arder. Foi uma aflição muito grande, mas logo depois apercebi-me que ele já estava na rua, graças ao Tiago que o resgatou de casa".
Tiago confirma: "Foi preciso arrebentar com a porta, não havia alternativa".
Luís Nunes contou ao JN que "estava a dormir" e não se apercebeu "de nada". Vive no primeiro andar do edifício - mesmo por baixo da casa que ardeu - há 15 anos e desabafa que dali só quer sair "quando morrer".
A filha, Aurora, referiu que também o pai "precisa de ser realojado".
O incêndio deflagrou por volta das 3.25 horas e "a sorte" de Tiago foi ter "chegado há pouco tempo a casa", porque tinha ido buscar o irmão ao trabalho. "Ainda estava vestido e de sapatilhas", disse, contando que o resto da família e vizinhos "saíram com a roupa que tinham no corpo, de pijama e roupão".
Enquanto os bombeiros, na manhã desta quinta-feira, procediam ainda à consolidação do rescaldo, na rua comentava-se que as chamas terão tido início no sótão da casa, porventura originadas por um curto-circuito.
A Polícia Judiciária esteve no local a investigar.
Dez pessoas têm de ser realojadas
A habitação atingida pelo fogo, onde vivia um casal e dois filhos, foi toda consumida pelas chamas, tendo o telhado ficado totalmente destruído.
As chamas ainda danificaram parte da cobertura do edifício contíguo, que está devoluto.
"Temos de dar Graças a Deus, porque no meio de um quarteirão de prédios antigos, onde o fogo se pode propagar rapidamente, os bombeiros deram uma resposta muito boa e rápida", salientou Nuno Cruz, presidente da Junta do Centro Histórico do Porto.
De acordo com o autarca foi "ativada a Linha de Emergência Social", sendo necessário realojar os dez moradores.
Uma pessoa foi levada para o Hospital de Santo António por precaução.
Um carro, que estava estacionado junto ao prédio, ficou danificado.
No combate às chamas estiveram o Regimento dos Sapadores do Porto e os Bombeiros Voluntários do Porto.