Patrícia Guimarães apresentou queixa contra desconhecidos depois de um homem lhe ter atirado com excrementos, em Campanhã.
"Tu não vais fazer esta corrida", ouviu. Passados minutos, o mesmo homem atirava-lhe com excrementos em estado praticamente líquido. Assim, para cima do corpo, quando estava ao volante. Patrícia Guimarães é motorista ao serviço da Uber e a agressão aconteceu na tarde de anteontem, no Porto. Volvidas 24 horas, ainda não tinha conseguido pregar olho nem ver-se livre do cheiro. Tomou dez banhos, cortou e pintou o cabelo, mas, ainda assim, não conseguiu lavar a humilhação.
"Nunca me senti tão pequena. E senti vergonha do ser humano. Só fica na minha ideia o grau de humilhação. Como é que um ser humano faz isto a outro?", questionava-se Patrícia, ao falar com o JN, ontem, praticamente 24 horas após o sucedido. A agressão aconteceu perto da estação de Campanhã, quando ia buscar três jovens estrangeiros.
Patrícia conta que primeiro foi ameaçada, na Rua da Estação. O homem chegou perto do carro e disse-lhe: "Tu não vais fazer esta corrida". Arrancou de imediato e, como viu que os clientes a seguiram, parou na Rua de Pinto Bessa. Só que o homem também a seguiu e, ao chegar perto, atirou-lhe com os excrementos que levava num frasco.
A motorista acredita que o frasco tinha estrume ou dejetos colhidos numa fossa. "Que era fecal, era", refere, acrescentando que de imediato ficou em estado de choque. Ela e os clientes. Um deles ainda perseguiu o homem, mas perdeu-lhe o rasto, e a ronda que a PSP fez pelas imediações também não surtiu efeito.
Patrícia, 42 anos, apresentou queixa contra desconhecidos e na segunda-feira será submetida a exames no Instituto de Medicina Legal. Sobre o autor da agressão, refere que só vê duas possibilidades: "Ou foi um taxista, ou foi alguém mandatado por um taxista. Ele usou a expressão "corrida" e a Uber causa transtorno a quem? Só aos taxistas".
Este é mais um episódio num historial de agressões contra motoristas que trabalham através da plataforma Uber, que opera em Portugal desde 2014. Antiga motorista de táxi, Patrícia Guimarães trabalha para a Chauffeur e é também jornalista freelancer.