4 de fevereiro de 1911

Travou-se uma "lucta" pelo feriado do Porto

Travou-se uma "lucta" pelo feriado do Porto

O JN promoveu uma consulta popular que ajudou o Município a escolher o dia de descanso no concelho. Votação foi renhida e o 1.º de Maio chegou a estar à frente, mas a escolha acabaria por recair no dia de S. João, 24 de junho.

Estávamos no início de 1911. Escassos meses haviam passado sobre a queda da Monarquia, ainda seria necessário esperar mais alguns para vermos nascer a primeira Constituição republicana e muitos anos teriam também de passar até se ouvir falar de direitos, liberdades e garantias como hoje os conhecemos. Mesmo assim, o "Jornal de Notícias" já atalhava caminho no conceito de democracia participativa: auscultou os leitores, abrindo uma votação para a escolha do feriado do Porto.

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O Governo Provisório da República tinha acabado de estipular, por decreto, quais eram os feriados nacionais: dias 1 e 31 de janeiro, 5 de outubro e, por fim, 1 e 25 de dezembro. Nesse mesmo decreto, concedia às câmaras, comissões e outras entidades de administração municipal o direito de escolher um dia para ser gozado como feriado local, entre as datas que, passamos a citar, "representem factos tradicionaes e característicos do município ou circumscripção".

O assunto foi prontamente debatido em reunião da comissão administrativa municipal, tendo o dia de S. João surgido logo como um dos favoritos. Mas, como não havia consenso, um membro da comissão apelou aos princípios democráticos, dizendo que não devia aquele órgão deliberar "sem que o povo do Porto, por qualquer forma, se pronunciasse em tal assumpto", como noticiava o JN em janeiro daquele ano.

A nossa notícia prosseguia do seguinte modo: "Tem, pois, o povo do Porto a palavra, para escolher o dia feriado que prefira. E o Jornal de Notícias faltaria á sua tradição de folha eminentemente popular, se não facilitasse ao povo a expressão do seu desejo".

Foi assim que o JN abriu uma consulta popular, que durou alguns dias, de forma a que as opiniões servissem de indicação aos decisores municipais. Bastava que o leitor enviasse um bilhete postal com a frase "Voto pelo dia...", não sendo preciso dar explicações. Não se podia escolher nenhum dos feriados nacionais.

"Trava-se a lucta", exclamava a edição do dia 22 de janeiro, pois a votação estava renhida e o 1.º de Maio chegou a assumir a dianteira. A decisão final foi por nós publicada a 4 de fevereiro. Dos 11 639 votos válidos, mais de seis mil eram a favor do dia de S. João. Entre as quatro hipóteses constavam ainda o 8 de dezembro e o 9 de julho.

Já então a dar cartas naquela que é uma das suas marcas de sempre - o jornalismo de proximidade -, o JN associou-se a uma causa e contribuiu para a decisão do poder municipal, que fixou o feriado do Porto a 24 de junho.

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