Estela Golf diz que limpou, mas só os que estavam soltos e sacode responsabilidades. Bloco de Esquerda já questionou os ministérios do Ambiente e do Mar.
São centenas de bocados de sacos plásticos, pregos enferrujados e estacas de madeira, espalhados ao longo de dois quilómetros, na praia da Estela, na Póvoa de Varzim. A proteção da duna cedeu e está a poluir a praia e o mar. "Uma vergonha", diz Maria Rola, do Bloco de Esquerda (BE), que já pediu esclarecimentos aos ministérios do Mar e do Ambiente. O PS também exige respostas. Os ambientalistas alertam para os perigos. O Estela Golf diz que já limpou, mas, na praia, onde o JN esteve ontem, continuam a ser centenas.
"Temos relatos de embarcações que chegam a terra com as hélices cheias deste material. É um problema de poluição da praia e do oceano, mas também um problema de segurança", afirmou Maria Rola, que, ontem, fez uma visita ao local. A deputada do BE na Assembleia da República diz que está na altura de, cumprindo o Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC), se pensar na "relocalização do golfe". "É uma proteção que está a destruir a duna primária", garante.
João Trocado, do PS/Póvoa, diz que, primeiro, é preciso "limpar e rápido", evitando mais contaminação do ecossistema marinho e, caso o Estela Golf não o faça, a Câmara - que tem agora a competência das praias -, "deve fazê-lo e mandar a conta". Depois, "é preciso estudar uma solução mais duradoura e que não se deteriore".
O Estela Golf garante que foi a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) quem, há três anos, determinou a colocação dos sacos para evitar o avanço do mar. A empresa que gere o campo "limitou-se a cumprir" e a "pagar". "Não é da nossa responsabilidade a sua destruição, nem nos compete recuperá-la", frisa ainda. Admite que, conforme o JN noticiou, recebeu um e-mail da APA a solicitar a remoção dos sacos, mas "não vinculativo". Ainda assim, acedeu a limpar, mas só os "sacos soltos". O que ainda resiste, diz, "não é da nossa responsabilidade".
Campos agrícolas em risco
"Não é só o campo de golfe. Se o mar entrar ali e "contaminar" os solos são duas mil empresas, que empregam dez mil pessoas, que estão em risco", diz o presidente da Câmara da Póvoa, Aires Pereira, lembrando que todos os campos agrícolas daquela zona estão a uma cota inferior à do mar.
Para denunciar o caso, a médica Sara Pereira criou o grupo "Praias da Póvoa sem Plástico". Há até fotos de quem faz pesca submarina e encontrou bocado de sacos idênticos, ao largo da praia da Salgueira, sete quilómetros a sul.