Obras
Igreja de Vila do Conde com mais de 700 anos está a apodrecer
foto Pedro Correia / Global Imagens
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Chove lá dentro, há vitrais partidos que permitem a entrada de aves, o coro baixo está ao abandono, o coro alto e o órgão correm o risco de ruir, há centenas de documentos, livros e partituras a desfazerem-se, paramentos, pinturas e objetos de arte sacra a degradar-se a olhos vistos. 700 anos de história e um Monumento Nacional a apodrecer.
Está assim a Igreja do Mosteiro de Santa Clara em Vila do Conde. Agora, a Câmara já começou a recuperação, mas há ainda muito a fazer e um compromisso por parte do Governo de obras urgentes que Vítor Costa espera "que se cumpra e rápido".
"É um extraordinário exemplar gótico, cujo estado de degradação e abandono é absolutamente inadmissível", afirmou o presidente da Câmara de Vila do Conde, que, hoje, guiou o JN numa visita ao local.
No próximo domingo, "simbolicamente no Dia da Cidade", Câmara e Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) vão assinar um protocolo de cooperação. A ideia é que, numa primeira fase, em colaboração com a DRCN, seja inventariado e restaurado todo o espólio que ali se encontra, algum com mais de 700 anos de história.
"Já começamos. Alguns dos objetos mais importantes já estão nas nossas reservas [guardadas no Centro de Memória]", continuou a explicar Vítor Costa.
Entretanto, a autarquia vai identificar as patologias, fazer o projeto de recuperação da igreja e elaborar um programa para criação de um espaço museu, na zona do antigo coro alto.
À procura de fundos
Depois, a ideia é que haja uma candidatura conjunta do Ministério da Cultura e da Câmara aos fundos comunitários do "Norte 2030", que permita fazer "uma intervenção de fundo" na igreja, mandada edificar em 1318 e classificada como Monumento Nacional desde 1910. A avaliar pela Igreja Matriz, onde só a obra da cobertura vai custar mais de 500 mil euros, a intervenção em Santa Clara rondará também as várias centenas de milhares de euros.
Num sinal de "envolvimento do Governo", diz o edil, o protocolo com a DRCN será assinado na presença da Secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro.
"É importante que se intervenha rapidamente, sob pena de aquele espaço se degradar ainda mais e se perderem peças valiosíssimas", frisou Vítor Costa, ciente de que o estado da igreja só não é pior "graças a um conjunto voluntarioso de pessoas" que, nos últimos anos, têm zelado pelo espaço. Ninguém sabe, no entanto, ao certo o que é que, entretanto, se perdeu.
PORMENORES
Órgão com mais de 200 anos
Em 1775, foi adjudicada a Francisco António Solha a construção do órgão de tubos junto ao coro alto. Hoje, aquela é uma das mais importantes caixas de órgãos do rococó existentes em Portugal. No coro alto o teto é revestido por caixotões de talha trabalhada e permanece o gradeamento atrás do qual as clarissas do mosteiro assistiam à eucaristia.
Túmulos singulares
É da década de 1440 o túmulo duplo (e raro) dos condes de Cantanhede. D. Brites de Andrade, trineta dos fundadores do Mosteiro, está sepultada ao lado do marido D. Fernando de Meneses. Na igreja estão ainda os túmulos dos fundadores D. Afonso Sanches e D. Teresa de Menezes e dois dos poucos exemplares da época de túmulos de criança (dois filhos do casal), bem como o túmulo de D. Brites Pereira de Alvim, filha de D. Nuno Álvares Pereira.
Lenda da Berengária
Na sacristia há uma pintura do século XV a lembrar uma das lendas mais antigas do Mosteiro: Berengária. Reza a história que a abadessa Berengária, determinada em trazer de novo humildade, sobriedade e pobreza ao convento, fez levantar dos mortos as sete abadessas que a antecederam. O "milagre" conferiu-lhe o respeito de todas as clarissas.