
A presença de polícias e militares fortemente armados passou a fazer parte do cenário urbano e equipas de especialistas em explosivos são chamadas com frequência para investigarem pacotes suspeitos
Jacky Naegelen/REUTERS
Um mês depois dos atentados de 13 de novembro em Paris que provocaram 130 mortos e levaram a realidade do terrorismo ao coração da Europa, França permanece no "estado de guerra" declarado pelo Presidente François Hollande.
O estado de emergência decretado depois dos atentados, que fizeram também 350 feridos, permanecerá em vigor até fevereiro e a força aérea francesa intensificou os seus ataques contra alvos do grupo extremista Estado Islâmico na Síria, enquanto Hollande tem tentado, com sucesso limitado, criar uma "coligação global" para atacar de forma decisiva o grupo 'jihadista', que reivindicou os ataques em Paris.
Os atentados relançaram também na Europa o debate sobre controlos de fronteiras, acolhimento de refugiados, necessidade de medidas securitárias e a emergência dos populismos e da xenofobia, com as trincheiras a serem cavadas na divisão entre a "necessidade de a Europa se proteger do terrorismo" e a "necessidade de a Europa não abdicar dos seus valores humanistas e não ceder à intimidação do terrorismo".
Resultado imediato dos atentados foi a decisão, em 20 de novembro, de um Conselho de Ministros do Interior da União Europeia sobre o "reforço imediato" do controlo do movimento de pessoas nas fronteiras exteriores do Espaço Schengen de livre circulação.
Em 04 de dezembro, os mesmos ministros acordaram o lançamento do sistema europeu de Registo de Dados de Passageiros (PNR na sigla em inglês), que se encontrava em suspenso devido às fortes interrogações sobre privacidade dos cidadãos e proteção de dados que suscitava. Na quinta-feira, a Comissão de Liberdades Civis do Parlamento Europeu aprovou a decisão dos ministros.
Entretanto, na capital francesa, a presença de polícias fortemente armados passou a fazer parte do cenário urbano e equipas de especialistas em explosivos são chamadas com frequência para investigarem pacotes suspeitos, fazendo com que a memória dos ataques contra a sala de concertos Bataclan, no exterior do estádio de futebol 'Stade de France' e vários restaurantes na zona leste da capital francesa se mantenha muito viva.
As flores e velas que se acumularam em memoriais às vítimas, a grande maioria jovens, improvisados nas ruas já começaram a ser retiradas, mas as fotografias, desenhos, mensagens e poemas - aos milhares e muitos semidestruídos pela chuva - serão restaurados e digitalizados para se transformarem num arquivo-memória do movimento de solidariedade desencadeado pelos atentados.
O turismo na cidade mais visitada da Europa está em recuperação depois da retração provocada pelos atentados e o regresso à vida normal passou a ser afirmado como uma forma de resistência, mas as feridas estão ainda por sarar e residentes na capital francesa, citados pela imprensa local e internacional, dão conta das marcas que os ataques deixaram no quotidiano.
Pessoas com sacos nos comboios passaram a ser observadas com atenção pelos outros passageiros e, disse uma professora primária citada pela agência AFP, "até cinturas protuberantes são alvo de suspeitas".
O bar A La Bonne Bière - onde o secretário-geral da ONU, Ban ki-moon foi beber uma cerveja acompanhado pela presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, para afirmar que a vida continua - já reabriu, mas todos os outros restaurantes que foram atacados há um mês continuam encerrados.
Na segunda-feira, a "resistência" ao terrorismo fez-se de música, com a banda Eagles of Death Metal, que tocava no Bataclan quando os terroristas atacaram, a voltar ao palco em Paris, durante um concerto da banda U2.
"Não cederemos ao medo", foi a mensagem deixada ao mundo pela estrela da pop Madonna, que na quarta-feira à noite apareceu na Praça da República, o centro das homenagens às vítimas, para um miniconcerto improvisado.
O suspeito de ter chefiado os atacantes, Abdelhamid Abaoud foi morto cinco dias depois dos atentados durante uma operação policial no bairro de Saint-Denis nos subúrbios de Paris e Salah Abdeslam, 26 anos, irmão de um dos bombistas suicidas está em fuga e é alvo de uma caça ao homem internacional.
Os atentados de Paris viraram também as atenções para a Bélgica, Abdelhamid Abaoud era cidadão belga de origem marroquina, particularmente para o bairro de Molenbeek em Bruxelas, tornado notório como centro de radicalização de simpatizantes dos 'jihadistas'.
Até ao momento apenas duas pessoas, dois amigos de Abdelhamid Abaoud, foram formalmente acusadas em França, em relação com os atentados, mas na Bélgica, depois de vários dias de vastas operações policiais que praticamente paralisaram Bruxelas, as autoridades belgas formalizaram acusações contra oito implicados nos atentados em Paris, incluindo três homens que terão ajudado Salah Abdeslam a fugir.
E as ondas de choque do atentado alastram ainda. Na quinta-feira a polícia suíça procurava quatro pessoas ligadas ao movimento 'jihadista' e em Genebra a segurança foi reforçada em resposta a uma "ameaça terrorista", que as autoridades consideraram ter passado de uma "ameaça difusa" a uma "ameaça precisa".
