
Compra de combustíveis russos continua a financiar "máquina de guerra" de Putin
AFP
Peritos defendem a proibição de voos dentro da Europa e a limitação da circulação automóvel no centro das cidades para poupar energia e impedir que Vladimir Putin lucre com a venda de combustíveis.
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Um relatório de especialistas energéticos e ambientais indica que, se a Europa assumir medidas assertivas, será possível privar a Rússia de milhares de milhões de euros em receitas da venda de petróleo e gás. Entre as propostas, está a proibição de voos dentro da Europa continental e a proibição de circulação automóvel no centro das cidades. Outras medidas indicadas pelo RePlanet Research Institute passariam pelo racionamento de energia e a limitação dos termóstatos aos 18 graus centígrados no inverno.
Estas ações mais duras permitiriam que a Europa rapidamente deixasse de depender do petróleo e do gás russos, garante o relatório. citado pelo jornal "The Guardian". Os autores do trabalho foram o conselheiro ambiental Mark Lynas, o analista energético Rauli Partanen e o especialista em energia e sustentabilidade Joris van Dorp.
Várias vozes têm-se levantado contra a política energética da União Europeia alegando que as compras de hidrocarbonetos russos estão a financiar a invasão da Ucrânia. O próprio chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, admitiu o problema: "Já demos mil milhões de euros à Ucrânia. Mil milhões de euros pode parecer muito, mas mil milhões de euros é o que pagamos todos os dias a Putin pela energia que nos fornece. Desde o início da guerra, já lhe demos 35 mil milhões de euros."
Nível de solidariedade europeia inédita
"Concluímos que é possível eliminar desde já as importações europeias de gás russo. Isto vai exigir um nível de solidariedade europeia inédito, uma combinação do Plano Marshall e da Ponte Aérea de Berlim para redistribuir energia em todo o continente à medida das necessidades e em apoio à transição", afirmam os autores do relatório.
A Agência Internacional de Energia (AIE) emitiu recentemente um plano de dez pontos para reduzir a dependência de petróleo em países membros da OCDE. Algumas das sugestões incluíam subsídios aos transportes públicos, redução dos limites de velocidade e limitação de voos internos.
Porém, investigadores do RePlanet Research Institute dizem que tais medidas apenas iriam reduzir a procura em 2,7 milhões de barris dia, uma quantia substancialmente inferior às exportações russas para a Europa.
Eliminar 25% do consumo de petróleo europeu
Daí a necessidade de se ir mais longe, com os autores do estudo a garantirem que conseguiram delinear um plano para eliminar 25% do consumo de petróleo na Europa. "Propomos a proibição de todos os voos dentro da Europa continental, incluindo de jatos privados, e a proibição do uso de automóveis no centro das cidades", afirmaram. As medidas seriam aplicadas a par da gratuitidade dos transportes públicos.
"É certo que o impacto das medidas não é facilmente quantificável, mas acreditamos que isto poderia duplicar a redução da dependência energética proposta pela AIE", afirmam.
Já para substituir a dependência de gás russo, os autores recomendam medidas como a suspensão do fecho das centrais nucleares na Alemanha, na Suécia e na Bélgica, a redução de quatro graus centígrados na climatização dos edifícios e a rápida disponibilização de equipamentos energéticos solares e eólicos.
500 milhões dia para o Kremlin
"A Europa está a enviar diariamente mais de 500 milhões de euros para o Kremlin porque continuamos a importar enormes quantidades de carvão, gás e petróleo russos. A situação não pode continuar", defendem os autores do relatório.
"É moralmente e politicamente insustentável que a Europa continue a financiar a máquina de guerra de Putin - pagando pelos mesmos mísseis e bombas que estão a cair sobre escolas e hospitais ucranianos - ao mesmo tempo que supostamente se está a unir para travar Putin com sanções. Há apenas uma solução. Temos de parar imediatamente com as nossas importações de combustíveis fósseis russos para travar esta enxurrada de dinheiro que estamos a enviar para o Kremlin", apelam.
