União Europeia acusa ditador Lukashenko de usar táticas de gangster. Situação na fronteira com a Polónia é tensa
Cerca de quatro mil migrantes do Médio Oriente, incluindo crianças e mulheres, estão encurralados e a desesperar sem condições humanitárias, na região gelada da fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia. É uma nova crise migratória e, aparentemente, é alavancada pelo regime bielorrusso: o ditador Alexander Lukashenko estará a atrair imigrantes do Iraque, Síria e Afeganistão para o seu país - facilita vistos e dá transporte -, enviando-os depois em massa para a fronteira europeia da Polónia. É, acusa a União Europeia, uma retaliação - e ao pior estilo gangster - contra as sanções impostas pela UE.
A Bielorrússia, apoiada pelo presidente russo Vladimir Putin, nega a acusação e culpa a Polónia de violar direitos humanos por recusar a entrada dos migrantes. A tensão está em crescendo e já gera temores de um confronto militar: os dois países estão a posicionar tropas armadas dos dois lados.
Lukashenko, o desafiador presidente bielorrusso no poder desde 1994, disse que não queria um confronto armado, mas que também não recuaria. "Não estamos à procura de uma luta... Não sou um louco, sei perfeitamente onde isso pode levar", disse à agência estatal Belta. "Mas não nos vamos ajoelhar". Enquanto isso, Mateusz Morawiecki, primeiro-ministro polaco, acusou Putin de ser "o mentor" por trás desta onda sem precedentes de imigrantes que tentam entrar ilegalmente na Polónia "numa tentativa de desestabilizar a Europa".
Campos sem condições
A crise, que está há meses em lume brando, atingiu novos picos ontem e anteontem: centenas de migrantes marcharam até a fronteira na zona florestal de Bialowieza, mas foram bloqueados por batalhões de polícias polacos, soldados e guardas de fronteira que ergueram arame farpado.
Os migrantes estão agora acantonados em acampamentos precários, sem água potável, comida ou abrigo, perto da vila polaca de Kuznica. Organizações Não Governamentais e jornalistas estão impedidos de contactar com os migrantes. A situação "é alarmante", diz a ONU.
Encurralados
Alguns imigrantes que conseguiram chegar à Polónia em outubro disseram à AFP ter ficado encurralados na floresta durante uma semana, com a Bielorrússia a recusar o seu regresso, enquanto a Polónia não os deixou entrar e pedir asilo. Os migrantes são na maioria curdos iraquianos e a sua condição física e mental era "extremamente pobre", disse um guarda bielorrusso. "A situação é agravada pelo grande número de mulheres grávidas e crianças, que passam a noite no chão em temperatura negativa".
A Polónia disse que a Bielorrússia está a usar os migrantes como arma de arremesso, insistindo que não abre a fronteira. "Fechar a fronteira polaca é do interesse nacional. Mas a estabilidade e a segurança de toda a UE estão em jogo", disse Mateusz Morawiecki. "Este ataque híbrido de Lukashenko atinge-nos a todos. Não seremos intimidados e defenderemos a paz na Europa com os nossos parceiros da NATO e da UE", concluiu. v