Com o avanço da desflorestação na Amazónia, cerca de 12 milhões de brasileiros podem ficar expostos ao calor extremo em 2100, com graves consequências para a saúde da população, revela um estudo publicado esta sexta-feira.
"O desflorestamento em grande escala da Amazónia associado às mudanças climáticas aumentará o risco de exposição ao calor extremo", alertou o estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), órgão de referência em pesquisas em saúde pública, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Universidade de São Paulo (USP).
As simulações dos pesquisadores preveem um aumento de 7,5 a 11,5 graus em 2100 face às temperaturas atuais no norte do país.
"Cerca de 12 milhões de pessoas na região Norte do Brasil correm risco extremo de stress por calor", aponta o estudo, que pela primeira vez relaciona a desflorestação ao aquecimento global e à saúde humana.
O stress por calor pode causar "transtornos mentais (...), problemas de desidratação e, nos casos mais graves, comprometer funções vitais, até a morte".
Os investigadores evocam um ponto sem retorno, "um limite do desflorestamento para a sobrevivência da espécie humana".
"Se o desflorestamento continuar no nível atual, terá efeitos dramáticos para a civilização", afirmou Paulo Nobre, pesquisador do INPE.
A destruição da maior floresta tropical do mundo aumentou dramaticamente desde que o Presidente Jair Bolsonaro assumiu o poder em janeiro de 2019.
No período de referência de agosto de 2020 a julho de 2021, 8.712 quilómetros quadrados foram destruídos na Amazónia brasileira, uma devastação próxima do recorde dos 12 meses anteriores (9.126 quilómetros quadrados).
Além dos riscos para a saúde, os investigadores explicam que as condições socioeconómicas de vida dos habitantes do norte do Brasil, que já é um dos mais pobres do país, podem-se deteriorar fortemente, causando fenómenos de "migração em massa".