Massacre

Fotógrafo do "homem tanque" ainda se questiona sobre o seu destino

Fotógrafo do "homem tanque" ainda se questiona sobre o seu destino

Vinte e cinco anos depois do massacre de Tiananmen, Jeff Widener ainda se questiona sobre o destino da figura solitária diante de uma coluna de tanques que capturou. O "momento" mudou a sua vida e a fotografia tornou-se numa das mais conhecidas de todos os tempos.

"Estaria a mentir se dissesse que penso nele todos os dias, mas penso quando irá aparecer, quando irá chegar alguém para dizer: 'Foi isto que aconteceu ao homem tanque'", disse o fotojornalista norte-americano, em entrevista à agência Lusa.

Jeff Widener não foi o único a fotografar o icónico momento em que um tanque avançava sobre um destemido jovem manifestante, mas foi a imagem que capturou com a sua Nikon FE2 ao serviço da agência Associated Press (AP) a que mais correu mundo, inundando primeiras páginas de jornais, e que recebeu uma nomeação para o prémio Pulitzer.

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Sem esquecer desde logo que há muitas teorias sobre a identidade do "homem tanque", o fotojornalista considera "impressionante", porém, o facto de persistir um vazio sobre o seu destino.

"O facto que importa não é apenas [saber] onde está o 'homem tanque', mas também os seus familiares ou os soldados que estavam no interior do tanque. Onde está toda a gente? Parece que desapareceram do planeta. Como é que é possível que ninguém saiba nada sobre aquele momento? Alguém tem de saber. Como se pôde evitar a fuga de uma informação desse tipo um quarto de século depois? Como é que isso é possível? Isso é o que mais me impressiona", afirmou.

"Não há nada. Não há nenhuma pista, ninguém sabe nada sobre nada", salientou Jeff Widener, que falava à Lusa pouco antes da vigília em memória das vítimas de Tiananmen que se realiza anualmente em Hong Kong.

Depois de o corajoso jovem lhe ter estragado a composição que inicialmente desenhara - o alinhamento perfeito dos blindados - Jeff Widener apercebeu-se, enquanto esperava pela morte que julgara certa do "homem tanque", que a imagem estava muito longe e arriscou mudar de lentes, num gesto que poderia ter colocado tudo a perder.

O jovem colocou-se, por diversas vezes, à frente dos blindados que avançavam para a praça. E quando Jeff Widener voltou a empoleirar-se na varanda do Beijing Hotel o estudante fez uma última abordagem aos tanques.

Isso explica a diferença relativamente a imagens capturadas por outros fotógrafos em que a figura solitária aparece com "um ar mais desafiador", observou Jeff Widener, indicando que a sua fotografia - que data da manhã de 5 de junho de 1989 - tem outro elemento que a distingue e que lhe "confere profundidade de espaço": os candeeiros.

"Todas apresentam um diferente estado de espírito. É realmente impressionante pensar em quantas formas diferentes um evento pode ser fotografado", advogou Widener, para quem a icónica imagem que captou, aos 33 anos durante o período de duas semanas que esteve em Pequim, é "especial", embora também haja outras na sua autoavaliação.

Kirk Martsen, um estudante universitário norte-americano que não conhecia, foi personagem principal na história do fotojornalista em Tiananmen. Foi ele quem lhe foi comprar mais filme fotográfico e quem o ajudou a escapar à polícia secreta do Beijing Hotel, permitindo que subisse ao seu quarto como se fosse seu convidado.

E também foi ele quem tratou de fazer chegar as fotografias ao escritório da AP. "Devo-lhe muito", sublinhou.

"Eu tirei três fotografias e, de repente, vi a velocidade do obturador" e parecia "impossível ter uma imagem completamente nítida estando sem tripé, debruçado numa varanda e a tentar equilibrar-me".

Embora sem saber o que viria a ser revelado, as imagens tinham de chegar à AP. Kirk Martsen colocou os rolos dentro de sacos plásticos e escondeu-os na sua roupa interior e saiu do hotel, passando por elementos da polícia secreta que fumavam, descontraídos.

Cerca de cinco horas depois, o jovem entrou em contacto com o chefe da fotografia que "minimizou" a foto, chamando-o à atenção, precisamente, para os erros técnicos.

"Foi a embaixada norte-americana [que entregou os rolos] porque o Kirk não conseguiu encontrar o complexo, estava a tentar esconder-se dos soldados e ao andar entre as ruas ficou confuso", recordou o fotojornalista.

Por isso, o jovem optou por ir à representação diplomática e pediu para que entregassem à AP "as fotografias muito importantes" que transportava. "Felizmente", a embaixada dos Estados Unidos acedeu ao pedido, acrescentou.

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