O presidente da Reserva Federal norte-americana mostrou-se, esta terça-feira, compreensivo com o movimento 'Occupy Wall Street', que há mais de duas semanas protesta junto ao centro financeiro de Nova Iorque contra a classe económica e política.
Corpo do artigo
"Como toda a gente, não estou satisfeito com o que está a acontecer com a economia", disse Ben Bernanke, numa audiência no Congresso, em Washington.
O presidente da Reserva Federal foi questionado por Bernie Sanders, senador pelo Estado do Vermont, se concorda com a avaliação dos manifestantes de Nova Iorque, e de "milhões de outros americanos, de que foi por causa da ganância, da irresponsabilidade e do comportamento ilegal de Wall Street" que os Estados Unidos "mergulharam na recessão horrenda" em que estão.
"A tomada excessiva de riscos em Wall Street teve muito a ver com isso, tal como algumas falhas da parte dos reguladores", respondeu Bernanke.
O senador insistiu, perguntando se os passos dados desde o colapso do mercado financeiro permitem concluir que tal não voltará a acontecer, nem um resgate de instituições financeiras será necessário.
"Estamos a fazer progressos substanciais, embora aponte que muitas das regras a ser concretizadas [no pacote legislativo] Dodd-Frank ainda não estão a ser impostas ou totalmente realizadas", disse o presidente da Fed.
"Mas acredito que à medida que o processo avança vamos ter melhorias muito substanciais", adiantou.
"Com o devido respeito, discordaria", respondeu o senador.
Os protestos 'Occupy Wall Street', que começaram a 17 de Setembro, continuam a ser pacíficos, mas no passado fim-de-semana a Polícia deteve perto de 700 pessoas por obstrução do tráfego no tabuleiro da ponte de Brooklyn.
Os detidos foram todos libertados até domingo de manhã e receberam notificações judiciais para comparecerem perante um tribunal de Manhattan, num período máximo de 30 dias.
Estão indiciados pelos crimes de "desordem pública" e "obstrução ao tráfego".
Juntando anarquistas, comunistas, pacifistas ou apenas descontentes com o desemprego, a desigualdade, a crise económica e a falta de transparência na governação, protestos similares têm vindo a surgir em outras cidades norte-americanas, como Los Angeles, Boston, Filadélfia, Seattle e Chicago.
O movimento tem vindo a somar apoios de notáveis, incluindo sindicalistas e intelectuais como Michael Moore, Cornell West e Noam Chomsky.
Na segunda-feira, foi o bilionário George Soros a manifestar simpatia pelo movimento, dizendo perceber as "frustrações" face à actual situação económica.
Pelo pequeno parque onde decorrem as manifestações, entre o Ground Zero e o centro financeiro de Nova Iorque, passou no domingo o Nobel da Economia Joseph Stiglitz, juntamente com o colunista de economia do New York Times, Jeff Madrick.
Comentando algumas das restrições a que os manifestantes estão sujeitos, como não usar sistema de som, Stiglitz disse tratar-se de um exemplo de "demasiadas regulamentações a impedir manifestações e não as suficientes a impedir o comportamento de Wall Street".
O enriquecimento de Wall Street, defendeu, foi feito à custa de "socialização de perdas e privatização de ganhos", o que o levou a considerar que "isso não é capitalismo, é uma economia distorcida".
