9 de novembro de 1989

O dia em que o Muro de Berlim começou a ruir

O dia em que o Muro de Berlim começou a ruir

Um aparente atabalhoamento do porta-voz do Governo da então República Democrática Alemã (RDA) precipitou a queda do Muro de Berlim, na noite de 9 de novembro de 1989, contribuindo para a transformação radical na geografia alemã - com a reunificação um ano depois - e na paisagem política da Europa.

"Berlim: o fim do muro para quem quiser emigrar", titulava, em manchete, a edição de 10 de novembro do JN. No interior, um primeiro despacho da jornalista Maria Ermelinda Pedrosa, correspondente em Bona, a capital da República Federal da Alemanha (RFA), anunciava em antetítulo: "Governo da RDA abre todas as fronteiras com o Ocidente".

"Muro de Berlim já está a ruir", acrescentava o título sobre o símbolo da divisão das duas Alemanhas, construído em 1961. No texto, proclamava que "caiu irrevogavelmente", após o anúncio, numa conferência de imprensa de Schabowski, de que desde essa noite os alemães "de leste" seriam livres de viajar. Milhares de pessoas puseram-se em marcha e começaram a ser abertas passagens. "A partir de ontem à noite, os alemães orientais são livres de passar todas as fronteiras da RDA para Berlim Ocidental e para a República Federal da Alemanha" e "não têm agora a necessidade de fazer o desvio pela Checoslováquia", informava o jornal.

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A medida não estaria prevista para ter efeitos imediatos. Mas, na conferência de imprensa, nessa noite, em que anunciou a liberalização de viagens, o porta-voz, Guenter Schabowski, confrontado com a pergunta do correspondente da agência italiana ANSA sobre quando entraria em vigor, disse, atrapalhado, depois de vasculhar nos papéis:

"Pelo que sei, de agora em diante".

Nos meses e sobretudo semanas anteriores, a saída de milhares de pessoas e a erupção de manifestações exigindo mudanças na Alemanha Democrática semelhantes às que estavam em curso na Polónia, na Hungria e na União Soviética, tinham levado à queda de Erich Honecker, líder do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED) e do Estado, e à sua substituição por dirigentes reformistas.

A edição do JN do dia 11 descreve já com mais pormenores os acontecimentos ("As horas loucas de Berlim-Leste", titulava, em referência aos cidadãos "atordoados" que passavam as fronteiras, embora na maior parte regressassem a casa) e o anúncio de "eleições livres, universais, democráticas e secretas" feito pelo SED, assim como pronunciamentos de dirigentes ocidentais pela reunificação das Alemanhas.

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