Há dez anos, o povo da Tunísia insurgia-se contra a autocracia do Governo, ditatorial, depois de viver anos na pobreza e profundamente oprimidos. Lutaram, organizaram-se e derrubaram o Executivo de Ben Ali, que estava há 23 anos no poder. Uma década depois, os manifestantes voltaram a sair à rua em protesto para, mais uma vez, exigir reformas sociais e económicas e melhores condições de vida.
Os protestos, que decorrem há uma semana, fazem-se ver por toda a Tunísia. Apesar do recolher obrigatório, em vigor desde outubro devido à pandemia da covid-19, os manifestantes, muitos deles jovens marginalizados, um terço dos quais está desempregado, exigem ao Governo que cumpra a promessa de reavivar a economia e exigem melhores condições de vida. .
Contudo, a violência está a marcar a sublevação. Vários grupos de direitos humanos, que têm denunciado a força excessiva da polícia sobre os manifestantes, afirmam que, em seis dias, as autoridades prenderam mais de mil pessoas.
Muitos dos detidos são menores de idade, que a polícia acusa de atos de vandalismo e roubo, e por isso pais e as famílias estão também a juntar-se aos protestos, pedindo a libertação de seus filhos.
Durante os confrontos noturnos, os manifestantes têm usado pneus a arder para bloquear as ruas e a polícia tem disparado gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar os jovens.
Em Sbeitla, ocorreram confrontos com a polícia, depois de surgirem rumores sobre a morte de um jovem ferido nos dias anteriores com uma granada de gás lacrimogéneo. O Ministério do Interior desmentiu a morte.
Em Hay Ettadhamen, um dos bairros mais pobres de Tunes, capital do país, foi palco de algumas das manifestações mais violentas desta semana.
Tal como o Executivo do país, os meios de comunicação locais classificam os manifestantes como "vândalos e criminosos", mas, na verdade, grande parte deles são pacíficos e estão apenas desesperados por uma visão positiva do futuro, relata a agência Associated Press (AP) que conversou com alguns jovens.
De acordo com Oumeyma Mehdi, da organização não-governamental Advogados Sem Fronteiras, a maioria dos casos contra os jovens detidos contêm "graves falhas processuais".
Já os menores estão a ser detidos ilegalmente e têm de ir a julgamento sem a presença dos pais ou algum representante dos serviços de proteção de menores.
Os que foram presos e considerados adultos estão a ser privados de contactar com advogados, de ter assistência médica e impedidos de contactar os pais, acrescentou Mehdi.
De acordo com a agência France Presse, mais de cem pessoas já foram condenadas numa audiência que durou apenas quatro horas.