O JN falou com um cidadão português que se preparava para sair do México quando, esta terça-feira, um sismo de magnitude 7,1 na escala de Richter atingiu o país e causou a morte a pelo menos 200 pessoas.
Adelino estava a almoçar no aeroporto da Cidade do México quando sentiu os abalos. "No princípio, nem liguei. Pensei que fosse um avião", contou, explicando que, em edifícios mais frágeis daquela região, é normal sentir-se os carros a passar e "outros ruídos mais fortes".
Só quando "começou tudo a tremer e o teto começou a cair", é que se apercebeu de que o avião afinal era um terramoto.
Pousou os talheres e levantou-se logo. "Fui para o meio da sala (de embarque)", disse, adiantando que "descer estava fora de questão" porque era muito difícil movimentar-se.
"As pessoas estavam em pânico". Pelo sismo e pelo medo de réplicas. "Uma senhora agarrou-se a mim, e quando o pior passou, agradeceu-me por lhe ter salvado a vida. Só que eu não salvei a vida a ninguém", contou entre risos. Mas foi por querer salvar a própria, que não perdeu tempo a filmar e fotografar os estragos.
Adelino Sousa devia ter embarcado num voo com destino a Nova Iorque, mas acabou por ter de atrasar a viagem para esta quarta-feira, depois de o aeroporto ter sido evacuado e todos os voos suspensos.
Era lá que estava, aliás, quando, apesar das ligações difíceis, falou com o JN.
Adelino considera-se uma pessoa aventureira. Gosta de conhecer a natureza, já subiu montanhas e até já esteve à beira de vulcões em erupção, mas "nada como isto". Apesar de ir ao México com relativa frequência por razões profissionais - trabalha na empresa JP Sá Couto, detentora do portátil Magalhães - nunca tinha sentido um sismo de tal magnitude.
"Apesar de ter sido de magnitude inferior à do terramoto da semana passada (8,1), este sentiu-se mais", já que o epicentro se registou a 300 quilómetros da Cidade do México.
Além das pelo menos 225 vítimas mortais, o sismo provocou danos irreparáveis. Ainda assim, "os mecanismos estão a funcionar, a Proteção Civil está a agir, o país está a levantar-se devagarinho e as pessoas estão unidas", constatou Adelino que, depois de o susto ter passado, voltou a sentar-se à mesa para acabar a refeição.
"Estava com fome. E ainda pedi um copo de vinho branco para celebrar comigo", contou.
"Mas celebrar porquê?"
"Porque sobrevivi. Eu e as pessoas que estavam comigo", respondeu.