Óbito

Sindika Dokolo, o colecionador de arte que casou com a "princesa" de Angola

Sindika Dokolo, o colecionador de arte que casou com a "princesa" de Angola

Sindika Dokolo, marido de Isabel dos Santos, morreu na quinta-feira, aos 48 anos, no Dubai, afogado enquanto fazia mergulho de apneia, uma atividade que praticava com frequência. Era um colecionador de arte e empresário nascido no antigo Zaire, atual República Democrática do Congo, e detinha a mais importante coleção de arte contemporânea africana, com cerca de três mil obras. Foi condecorado pela Câmara Municipal do Porto em 2015 e no ano seguinte escolheu a cidade Invicta para acolher a sede europeia da sua fundação.

Sindika Dokolo nasceu no antigo Zaire, atual República Democrática do Congo, a 16 de maio de 1972, era filho do banqueiro Augustin Dokolo Sanu, e da sua segunda mulher, a dinamarquesa Hanne Taabbel. Passou a infância entre a Bélgica e França. Frequentou o liceu Saint Louis de Gonzague, em Paris, onde concluiu a formação de nível secundário, e licenciou-se em Economia, Comércio e Línguas Estrangeiras na Universidade Pierre e Marie Curie.

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Inspirado pelo pai, amante de arte, começou a sua coleção de arte quando tinha 15 anos e criou mais tarde a Fundação Sindika Dokolo, a fim de promover as artes e festivais de cultura em Angola e noutros países.

Casou-se em Luanda, em 2002, com Isabel dos Santos, filha do ex-presidente de Angola José Eduardo dos Santos.

Sindika Dokolo era o maior colecionador de arte africana contemporânea. Em 2015, foi distinguido com a Medalha de Mérito pela Câmara Municipal do Porto, a propósito da exposição de arte contemporânea "You Love Me, You Love Me Not". Em 2016, a Fundação Sindika Dokolo reforçou a ligação a Portugal ao escolher a cidade do Porto para estabelecer a sua sede para a Europa e comprou a Casa Manoel de Oliveira. "Neste espaço vamos promover redes de reflexão artística e fortalecer laços entre Portugal e Angola, a Europa e África, numa ode à arte enquanto elemento unificador de povos e países", salientou, na ocasião, Sindika Dokolo.

Em outubro do ano passado, a sua Fundação comprou e repatriou para Angola 20 peças de arte que tinham sido levadas de museus angolanos para coleções estrangeiras e preparou-se para entregar ao museu de Kinshasa a primeira peça congolesa recuperada.

Crítico dos quase 20 anos do regime do presidente Joseph Kabila na República Democrática do Congo, Sindika Dokolo esteve cerca de cinco anos no exílio, devido aos processos movidos contra si em Kinshasa, tendo regressado apenas em maio de 2019, já depois da chegada ao poder de Félix Tshisekedi, que tomou posse como chefe de Estado congolês em janeiro.

Em fevereiro de 2016, ainda com José Eduardo dos Santos nas funções de presidente em Angola, a Fundação Sindika Dokolo entregou ao chefe de Estado, no Palácio Presidencial, em Luanda, duas máscaras e uma estatueta do povo Tchokwe (leste de Angola), que tinham sido saqueadas durante o conflito armado, recuperadas após vários anos de negociação com colecionadores europeus.

Em janeiro deste ano, o caso "Luanda Leaks" expôs alegados esquemas financeiros da empresária Isabel dos Santos e do marido, que lhes teriam permitido retirar dinheiro do erário público angolano através de paraísos fiscais. Desde então, estariam ambos a viver no Dubai.

Sindika Dokolo já havia sido condenado a um ano de prisão em 2017, por alegadas fraudes no ramo imobiliário. Na altura afirmou que a condenação tinha motivações políticas. Entre os vários negócios que detinha, Dokolo era dono da joalheira de luxo De Grisogono, juntamente com a empresa estatal angolana Sodiam.

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