Os talibãs querem criar um "grande exército" no Afeganistão, que vai incluir oficiais e soldados que serviram no anterior regime, disse esta segunda-feira um responsável pela supervisão da reforma militar no país.
"O nosso trabalho na formação de um Exército continua. Os profissionais, incluindo pilotos e engenheiros, pessoal de serviço, de logística e administrativo [do antigo regime] têm o seu lugar no setor de segurança. Formaremos um Exército de acordo com as necessidades do país e os interesses nacionais", disse Latifullah Hakimi, um alto funcionário do Ministério da Defesa que chefia a comissão encarregada de identificar abusos dentro do movimento.
Vai ser um "grande Exército", prosseguiu, sem especificar o número de efetivos.
Hakimi também não disse como seria financiado, uma vez que os cofres do país têm estado praticamente vazios desde o súbito fim da ajuda internacional em agosto, que financiava quase 80% do orçamento afegão, e o congelamento por parte dos Estados Unidos de 9,5 mil milhões de dólares em ativos do Banco Central afegão.
O chefe da comissão responsável pela identificação de abusos dentro do movimento disse ter excluído quase 4500 talibãs, recrutados depois de agosto e acusados de vários crimes.
No regresso ao poder, os talibãs declararam amnistia geral e asseguraram que os militares e funcionários do antigo governo não estavam sob ameaça.
No entanto, a maioria dos altos funcionários governamentais e militares preferiu deixar o país durante a retirada de mais de 120 mil pessoas nos últimos dias de agosto.
Os que permaneceram, preferem manter a discrição por medo de represálias do novo regime.
No final de janeiro, um relatório das Nações Unidas acusava os talibãs de matarem mais de 100 antigos membros do governo e das forças de segurança afegãs, tal como afegãos que tinham trabalhado com as tropas estrangeiras.
No entanto, Latifullah Hakimi assegurou que a amnistia estava a ser implementada.
"Se a amnistia não tivesse sido decretada, teríamos assistido a uma situação dramática", assegurou.
Se a integração dos antigos soldados nas suas fileiras não é realmente visível no quotidiano, os talibãs fizeram questão de anunciar a nomeação de dois médicos de alta patente no antigo serviço de saúde do Exército Nacional - um general e um coronel - para postos importantes no Ministério da Defesa, no mesmo setor.
Segundo Hakimi, encontram-se reparados metade dos 81 helicópteros e aviões abandonados e inutilizados pelas forças norte-americanas e os seus aliados durante a retirada precipitada do país no verão passado.
Durante a sua ascensão meteórica ao poder, os talibãs apreenderam um total de cerca de 300.000 armas ligeiras, 26.000 armas pesadas e 61.000 veículos militares, afirmou Hakimi.