Alguns dos vídeos macabros que exibem mortes violentas de reféns do Estado Islâmico são produzidos por um grupo de jiadistas lusos, liderados por Nero Saraiva, e que serão próximos do carrasco de negro.
"Jihadi John", o terrorista mais conhecido do Estado Islâmico (EI), por ser o protagonista dos mais doentios vídeos de homicídios do grupo radical, terá ligações próximas com cinco portugueses que se radicalizaram em Londres, antes de viajarem para a Síria. O líder da célula portuguesa proveniente do leste de Londres é, segundo o jornal britânico "Sunday Times", Nero Saraiva, de 29 anos, nascido em Angola mas com nacionalidade portuguesa. No verão de 2012, foi o primeiro do grupo a juntar-se ao Estado Islâmico.
Saraiva (também identificado como Patrício) está no radar dos serviços de informações desde o ano passado, depois de ter publicado na rede social Twitter vários indícios de que seria mais do que um simples soldado do EI. Naquela que será a rede social predileta dos jiadistas (usada para divulgar vídeos de homicídios e mensagens de propaganda), o português publicou uma imagem de uma arma de 9mm semelhante à usada por "Jihadi John", o homem de origem britânica que decapitou vários reféns.
Serviço secretos atentos
Uma das publicações que despertou mais atenções para Nero data de 10 de julho. Nela, o jiadista dava conta de uma "Mensagem para a América", que estaria a ser preparada em vídeo, e agradecia "pelos atores". A 14 de agosto, foi divulgada a decapitação de James Foley, com o título "Mensagem para a América". Este conhecimento prévio sobre os homicídios perpetrados pelo grupo leva responsáveis ligados aos serviços de segurança ouvidos pelo "Sunday Times" a considerar que Saraiva estará envolvido, juntamente com outros quatro portugueses, na produção e divulgação dos vídeos macabros símbolo da violência do EI.
Pai de quatro crianças de quatro mulheres diferentes - uma delas será de uma jiadista australiana com quem casou na Síria - Nero Saraiva nasceu em Angola, mas veio com dois anos para Portugal. Terá tido formação católica e, há cerca de dez anos, partiu para Londres, onde estudou e se tornou especialista em petróleo. Foi lá que conheceu o Islão e se radicalizou, juntamente com os portugueses do seu grupo. O seu nome está ligado também à Tanzânia, onde terá financiado e fornecido armamento para um atentado. Manterá ainda ligação com o filho que está em Londres, através de um padre, ainda que este negue ter falado com o Nero Saraiva, revela o "The Telegraph".
Os mais de dez portugueses que partiram para a jiad integram o contingente de mais de 20 mil guerrilheiros estrangeiros que vão ganhando relevo no EI. Segundo o "Wall Street Journal", os estrangeiros são mais importantes do que os locais, porque são mais determinados e ideologicamente mais fortes do que os sírios. Além do mais, serão "mais difíceis de corromper".