Com o confinamento, em 246 municípios não houve uniões. No país, a queda foi de 94%. Em Lisboa, só um casal deu o nó.
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Com os portugueses fechados em casa e as conservatórias a funcionar por marcação, houve um travão a fundo nos casamentos: em 246 concelhos de Portugal (quase 80% do total), ninguém casou em abril. Contas feitas, as uniões caíram 94% em relação a abril do ano passado. Com a corda na garganta, a indústria do setor já fez propostas ao Governo. Se em abril de 2019 houve 1943 casamentos, no mês passado o número caiu para 112. É certo que abril não é o mês predileto para casar: no ano passado, também havia 69 concelhos com zero uniões, mas o retrato atual é um sintoma do que o setor vive. Em Lisboa, só um casal disse o "sim" em abril, contra 217 em 2019. Em Braga não houve um único casamento e no Porto só oito casais o fizeram, segundo dados do Instituto de Registos e Notariado.
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Olhando aos distritos, em abril de 2019 não houve nenhum em branco nos casórios. Mas, no mês passado, Bragança, Guarda, Vila Real e os Açores não celebraram qualquer matrimónio. Mesmo nos distritos onde mais se casa - Lisboa, Porto, Setúbal, Braga e Aveiro - foram poucos os que quiseram, sem festa, oficializar a relação. No de Braga, que teve 165 uniões em abril do ano passado, só dois casais avançaram para a conservatória durante o confinamento.
O número de casamentos já começava a dar sinais de quebra em março, quando a pandemia atingiu o país. Na altura, e comparando com o mesmo mês de 2019, a redução foi de 36,4%.
Grande impacto
O impacto no setor está patente em estudos como o da Exponoivos, que concluiu que 94% das empresas já tiveram cancelamentos ou adiamentos. Dessas empresas, 65% tiveram de adiar mais de 10 casamentos.
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A Belief Wedding Creators, plataforma internacional para "wedding planners", inquiriu mais de mil agentes em 47 países e concluiu que, em Portugal, 32,1% dos matrimónios foram adiados para o segundo semestre deste ano, 22,5% para 2021 e 6,4% foram mesmo cancelados. Só em Itália houve mais adiamentos.
A BestEvents, que organiza a BragaNoivos, ViseuNoivos e White Wedding, concluiu que 96% das cerimónias são adiadas e não canceladas. Quem cancela justifica com a incerteza sobre o futuro e o receio de não ter capacidade financeira.
A organização da Exponoivos diz que o efeito da covid-19 "pode ser devastador para as empresas, caso não sejam tomadas medidas urgentes". Os profissionais da indústria reuniram esta semana com o Governo e apresentaram um "Manual de Boas Práticas para a Retoma de Atividade na Indústria de Eventos Sociais".
Entre as propostas está a medição da temperatura a todos os convidados, a preferência por espaços ventilados e serviço de cocktail de pé, regras de higiene e distanciamento social. O Governo prometeu analisar as medidas com a Direção-Geral da Saúde.
Dezenas de negócios arrastados pela crise
Das alianças ao vestido de noiva, do bolo à decoração, dos convites às lembranças, dos músicos aos fotógrafos, há centenas de profissionais que não viviam exclusivamente dos casamentos, mas que foram fortemente afetados pelos adiamentos.
A BestEvents, responsável por feiras nacionais e internacionais, fez um estudo com 257 empresas e concluiu que o valor médio gasto na organização de um casamento é de 35 289 euros.
"É uma área onde operam mais de sete mil empresas em Portugal. Geram muito emprego e têm um grande impacto na economia portuguesa", afirma Jorge Ferreira, da BestEvents.
O serviço mais caro é o da lua de mel. O destino de sonho e custos associados valem, em média, 3119 euros. Muito perto está o aluguer do espaço, geralmente uma quinta, que custa uma média de 3077 euros. Logo a seguir vem o vestido de noiva e acessórios, com um custo médio de 1968 euros.
O setor do vestuário é, aliás, um dos que comportam mais gastos. "Temos casamentos em que vendemos só o vestido de noiva, mas às vezes temos dez vestidos e fatos", revela Rafael Freitas, com uma loja na Avenida da Boavista, no Porto. Tem o espaço fechado desde meados de março e preparava-se para entrar na época alta dos casamentos, mas caiu tudo por terra. "Março é o primeiro mês da época alta, tínhamos tudo preparado e estamos a zero", lamenta, lembrando que ninguém sabe quando se vai poder fazer cerimónias com centenas de convidados. "Ninguém quer fazer um casamento com 40 ou 50 pessoas, querem ter as 200 que já convidaram", refere Rafael Freitas.