
Manuel Galhardas, 37 anos, deposita esperança na “sensibilidade” de Marcelo
Pedro Rocha / Global Imagens
Adivinha-se mais uma semana de muitas dificuldades nos hospitais e centros de saúde.
Depois de a última ter sido marcada pelo protesto dos enfermeiros especialistas que se recusam a prestar cuidados especializados nos blocos de parto, começa às zero horas de segunda-feira uma greve nacional de enfermeiros. Querem ganhar mais e a integração da categoria de especialista na carreira.
São cinco dias de paralisação, que podem pôr em causa cirurgias, exames e diversos atos de enfermagem no Serviço Nacional de Saúde. O protesto é para todos (especialistas e não especialistas) e foi convocado pelo Sindicato dos Enfermeiros (SE) e pelo Sindicato Independente Profissionais de Enfermagem (SIPE) - que dizem representar cerca de 18 mil enfermeiros - em resposta à falta de acolhimento das propostas apresentadas à tutela. Nos últimos dias, a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) informou que as exigências teriam um impacto de 126 milhões de euros por ano.
O presidente do SEP, José Azevedo, garante que "esta greve vai ser diferente". Aliás, já era diferente antes de arrancar: na semana passada, a Secretaria de Estado do Emprego informou que o protesto foi "irregularmente" convocado. Em causa estão os prazos do pré-aviso. O Governo diz que só o recebeu no dia 28 de agosto, enquanto o SE sustenta que fez o anúncio na comunicação social no dia 25, como previsto no Código do Trabalho, pelo que estão cumpridos os dez dias úteis estabelecidos na lei. A questão jurídica pode repercutir-se na adesão ao protesto. É que a tutela já mandou os hospitais marcarem falta aos ausentes. José Azevedo vai apresentar queixa contra o secretário de Estado do Emprego por má-fé. "Isto só serve para criar confusão e medo, mas revolta ainda mais os profissionais", assegura.
Posição da bastonária contestada
A atual bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE) assina por baixo. Ana Rita Cavaco tem sido a porta-voz da indignação e revolta da classe. Anda há meses pelos hospitais a ouvir as queixas de quem está no terreno. Os quase 41 mil enfermeiros representam um terço da força de trabalho do Serviço Nacional de Saúde, ganham pouco - 1200 euros em início de carreira, mas há muitos que não passam daí há mais de dez anos (ler textos ao lado) - e não chegam para cumprir dotações seguras.
"É também da saúde das pessoas que estamos a falar. Está provado que, por cada doente a mais a cargo de um enfermeiro, a probabilidade de morte sobe 7%", afirma Ana Rita Cavaco, assegurando que já enviou dezenas de notificações para o Governo sobre situações de insegurança nos hospitais. "De há dois meses para cá, a resposta é zero", realça.
Indiferente ao puxão de orelhas da Procuradoria-Geral da Republica (PGR) por se imiscuir em atividades sindicais e às críticas por integrar o Conselho Nacional do PSD, a bastonária apoia a greve e também o movimento dos Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstétrica (EESMO). Na última semana, estes começaram a entregar na OE os títulos de especialista para não terem de executar tarefas pelas quais não são pagos. Seguem-se os de saúde infantil e pediátrica, reabilitação e médico-cirúrgica.
A nova forma luta, que está a obrigar os médicos a assumir o trabalho de quem protesta, foi considerada ilegal pela ACSS, que pediu um novo parecer à PGR.
