Cerca de 900 pessoas com deficiência têm apoio de um assistente pessoal, revela o presidente da associação Centro de Vida Independente. O projeto-piloto tem fundos comunitários assegurados até 2023 e dezenas de pessoas desceram este sábado à tarde a Avenida da Liberdade, em Lisboa, para exigirem que a experiência se torne um programa nacional, com direito a verbas do Orçamento do Estado.
"Um dos problemas identificados é que, em média, os assistentes estão três horas por dia com as pessoas. É muito pouco tempo. Não garante independência. Significa que o Estado continua a delegar responsabilidades nas famílias", alerta Jorge Falcato, presidente da associação.
O caderno reivindicativo da associação, lido no final da marcha pela Vida Independente, prevê, além do financiamento para o programa, por exemplo, a revisão dos critérios da antecipação da reforma de pessoas com deficiência. Outras mudanças exigidas como urgentes são o cumprimento dos prazos e o fim da burocracia no acesso aos produtos de apoio, atribuídos pela Segurança Social. "Há pessoas que esperam um ano por uma cadeira de rodas e, no caso de crianças, é pior porque depois o tamanho já não é adequado", garante.
Férias em conjunto
Na marcha, Carla Oliveira, que usa uma cadeira de rodas para se movimentar devido a uma doença, pedia vida independente para todos. O país, garante, "ainda está muito longe" desse estado de inclusão. A administrativa financeira perdeu o emprego na pandemia. As quotas de emprego, por exemplo, "não são cumpridas, nem pelo próprio Estado. Chegam a abrir concursos por vaga e assim nunca é aberta a quota", reclama. Carla tem uma assistente pessoal 15 horas por semana e reclama não só a continuidade deste apoio, como o reconhecimento da carreira de assistente pessoal. Cláudia Santos, a sua assistente pessoal, desceu a seu lado a Avenida da Liberdade.
"Defendem-nos porque somos basicamente a vida deles. Temos uma relação de trabalho, mas também de amizade. Já fiz férias com a Carla", conta ao JN.
Os assistentes pessoais, conta Cláudia, fazem o que as pessoas que apoiam não conseguem fazer sozinhas, desde dar banho a ir às compras, limpar a casa ou fazer a cama, por exemplo.
Soraia Oliveira também se desloca numa cadeira de rodas por ter artrogripose, uma doença rara. Aos 24 anos, é administrativa no Hospital dos Lusíadas e garante ter conseguido, "finalmente", uma vida independente". Diariamente, descreve, tem de ultrapassar "múltiplas barreiras", apontando "os passeios altos. Temos de andar sempre na estrada ou nas ciclovias".
Carla e Soraia criticam a Câmara de Lisboa por ter rejeitado uma proposta do BE que propunha o alargamento da gratuitidade dos passes a pessoas com deficiência. "Para cada pessoa seria importante, para a autarquia o impacto financeiro era quase zero, simbolicamente seria um passo muito importante também", defende a líder bloquista, Catarina Martins que também passou pela marcha.