No encontro anual da Associação Cuidadores, no Porto, no qual marcaram presença diversos convidados, entre eles a antiga ministra da Saúde, Ana Jorge, debateu-se a importância de rever o estatuto do cuidador informal.
A urgência de rever o estatuto do cuidador informal, nomeadamente a necessidade de aproximação entre quem precisa de cuidados, os cuidadores e os serviços de saúde e sociais, esteve em cima da mesa, esta quinta-feira, no encontro anual da Associação Cuidadores, que decorreu na biblioteca Almeida Garrett, no Porto. Com o objetivo de promover o papel de quem cuida e de discutir ideias para projetos e soluções futuras, o encontro contou com a presença de vários profissionais da área da saúde e social.
Ana Jorge, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa e antiga ministra da Saúde, abordou o tema "Os cuidadores e a interação com o sistema formal de cuidados" e realçou a necessidade de rever alguns pontos do estatuto do cuidador informal, uma vez que este apresenta algumas barreiras.
Para a ex-ministra, a criação do estatuto "foi um passo gigante mas é preciso concretizá-lo", acrescentando que "é necessário repensar este modelo e tentar definir prioridades para os grupos mais vulneráveis e para aqueles que necessitam de cuidados".
A presidente da Cruz Vermelha refere ainda a importância de existirem equipas multiprofissionais para que seja possível chegar melhor às pessoas, realçando um dos pontos do estatuto em que se encontram barreiras: o acompanhamento de proximidade por parte de um profissional de referência. "Ter um profissional de referência na saúde, com as dificuldades atuais, nomeadamente dos médicos de família, é muito complexo", concluiu.
A coordenadora do Projeto Autarquias que Cuidam do IPAV, Paula Guimarães, ressalta que "mais importante do que um subsídio, é o conjunto de medidas de apoio que devem ser consagradas e defendidas". Para Paula Guimarães, é fulcral que se passe de um conhecimento meramente administrativo para um conhecimento no terreno.
"Para consagrar e reconhecer o papel do cuidador, não é preciso verificar critérios de habitabilidade, não é preciso apoiar os cuidadores para melhorarem as suas condições habitacionais e não é preciso, sequer, fazer uma visita domiciliária prévia. Eu acho que isto diz tudo acerca do distanciamento e conhecimento da realidade", acrescentou, apontando estas críticas ao modelo.
Relativamente ao papel das autarquias, Paula Guimarães vai mais longe e refere que a lei "ignorou aquilo que pode ser o potencial de proximidade entre as entidades e as pessoas" e que, desta forma, o Estado Central não vai conseguir dar resposta e implementar o estatuto em toda a sua plenitude.
Cuidador de 82 anos sem direito a apoios
Adriano Almeida, com 81 anos, é cuidador informal da esposa, Margarida, de 82 anos. Um papel que diz ter assumido "sem reservas e com todo o carinho e dedicação". Aprendeu, sem um acompanhamento prévio, a cuidar de Margarida e da casa, "desde a higiene, alimentação, tratamento de roupas, limpeza e até saúde". Relativamente às ajudas, diz serem irrelevantes quando comparadas com os impostos que paga e todos os pedidos que fez para ter subsídios foram indeferidos. "É esta a realidade do país que temos e de quem nos governa em termos de apoios sociais", lamentou Adriano Almeida.
Tiago Mayan, presidente da União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, refere que este é um exemplo de como os serviços públicos não conseguem chegar a todos e que é necessário recorrer a privados. "A junta tem que ser um aliado, um facilitador, enquanto órgão político não temos a capacidade que estas organizações têm", acrescenta.
A importância de uma preparação prévia dos cuidadores também foi um dos temas abordados, assim como a necessidade de períodos de descanso para que possam melhorar o seu desempenho físico e psicológico para cuidar de quem precisa. É aqui que entra a Associação Cuidadores que tem o papel de acompanhar o cuidador nas diferentes fases da vida, através de apoio emocional, orientação, capacitação e descanso, com vista à inclusão social da pessoa cuidadora informal, já tendo conseguido alcançar 1482 pessoas.
O encontro, moderado pelo apresentador Jorge Gabriel, contou ainda com a presença de Ana Fontoura, diretora Coordenadora do Gabinete de Responsabilidade Social Fidelidade, Sílvia Cunha, diretora do Departamento Municipal de Promoção de Saúde e Qualidade de Vida e Juventude da Câmara do Porto, Ana Luísa Pinto, diretora da Associação Cuidadores, Filipe Almeida, presidente da Portugal Inovação Social e João Aguiar, presidente da junta de freguesia do Bonfim.