"Tragédia" foi a palavra usada pelo Jornal de Notícias ao longo dos muitos dias em que se escreveu sobre os incêndios, primeiro, em junho, em Pedrógão Grande, e depois em outubro, nos distritos de Coimbra e Viseu
Talvez por não existir uma palavra mais completa para descrever o sofrimento, a morte e a destruição, foi "tragédia" que se chamou sempre ao incêndio que, em Pedrógão matou 64 pessoas, fez 254 feridos (241 civis, 12 bombeiros e 1 militar da GNR) dos quais sete em estado grave. Meses depois, em outubro, a mesma palavra tentava dar nome às chamas que mataram 50 pessoas e feriram mais de 70 em Oliveira do Hospital, Santa Comba Dão, Tondela e Vouzela, entre outros concelhos dos distritos de Coimbra e Viseu.
No total, em 2017 só nestes dois casos morreram em Portugal 114 pessoas vítimas de incêndios florestais. Na análise que foi sendo feita no JN citando o Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, em junho, a maioria das vítimas perdeu a vida no interior de automóveis, quando tentava fugir das chamas. Em outubro, grande parte das vítimas morreu em casa. As chamas tomaram proporções inimagináveis durante a noite e as vítimas estavam em casa "a dormir".
"Na paisagem, além da floresta manchada de negro, havia dezenas de carros queimados, postes de eletricidade derrubados e casas ardidas", noticiava o JN. A população relatava o horror e o desamparo que viveu: "A gente pode morrer e não vêm bombeiros".
Em dezenas de páginas publicadas sobre os incêndios, o JN deu voz à população, às vítimas, às famílias, às autoridades e a muitos especialistas. A tragédia deixou Portugal em estado de choque e a dimensão do drama fez com que bombeiros estrangeiros viessem ajudar no combate. Na Galiza e em Monção, as chamas atravessaram fronteiras e causaram também alarme em Espanha. No dia 15 de outubro, 440 incêndios estavam ativos em Portugal e 33 foram considerados de grande dimensão.
As causas dos incêndios terão sido a conjugação de vários fatores: trovoada seca, temperatura superior a 40 graus e vento "instável".
Ao JN, Jaime Marta Soares, na altura presidente da Liga de Bombeiros, disse acreditar que a tragédia " não teve origem em causas naturais já que, segundo a perceção de alguns habitantes o fogo já estaria ativo duas horas antes da altura em que ocorreu a trovoada seca nesta zona".
Como resposta à catástrofe, o Governo decretou três dias de luto nacional, em junho e outubro, enquanto várias autoridades internacionais enviaram mensagens de solidariedade.