O hospital Amadora-Sintra instaurou processos disciplinares a três cirurgiões, por terem participado no único caso que, segundo uma perícia levada a cabo pela Ordem dos Médicos, poderá ter configurado "má prática" clínica. Ao que o JN apurou, os cirurgiões da instituição estiveram esta quinta-feira reunidos com a administração do hospital. Segundo o "Expresso", ameaçam demitir-se caso os denunciantes das alegadas más práticas não sejam afastados.
Os três processos disciplinares foram instaurados depois de uma perícia da Ordem dos Médicos (OM) ter sinalizado a ocorrência, no Amadora-Sintra, de um caso de "má opção cirúrgica" e que "pode configurar má prática". No limite, os processos poderão levar ao despedimento dos profissionais envolvidos nesse caso, mas ainda haverá direito a defesa.
A perícia da OM, recorde-se, foi solicitada pelo hospital na sequência de denúncias, vindas de dentro da instituição, que falavam na existência de "mortes e mutilações". Um dos denunciantes é o ex-diretor de serviço de cirurgia geral.
Segundo o "Expresso", os cirurgiões do Amadora-Sintra ameaçam demitir-se em bloco caso os denunciantes não sejam afastados. Para esse efeito, terão posto a circular um abaixo-assinado, que terá sido discutido esta quinta-feira com a administração do hospital.
O JN apurou que existiu uma reunião entre as partes durante a manhã. Embora tenha existido um ambiente pesado e de algum mal-estar, o encontro decorreu num clima de respeito generalizado.
Já na segunda-feira, dia em que foi confirmado que a OM já tinha o relatório pericial em seu poder, o bastonário tinha revelado ao JN que existiam vários cirurgiões descontentes no Amadora-Sintra. De acordo com Miguel Guimarães, alguns deles ponderavam mesmo deixar a instituição, dado o clima de suspeição instalado.
A 13 de janeiro, o bastonário tinha pedido "cautela" face às notícias das alegadas más práticas clínicas. "Corremos o risco de as pessoas acharem que já não vale a pena ir lá e que está tudo mal no hospital, quando não é isso que está em questão", disse, na altura, aos jornalistas.
Não houve "má prática generalizada", sublinha hospital
Entre as situações avaliadas, refere o hospital, foi identificada uma situação em que se pode considerar que terá sido tomada uma "má opção cirúrgica, o que pode configurar má prática [citação retirada do relatório pericial da OM]", situação que o hospital lamenta publicamente e que diz que irá procurar esclarecer na totalidade, mas sublinha que a Ordem não encontrou "indícios de má prática generalizada"
Numa mensagem de vídeo enviada à comunicação social, a diretora clínica do HFF, Ana Valverde, afirma que o perito médico que colaborou com o hospital no inquérito concluiu que este caso poderá configurar uma "má prática".
"O Hospital lamenta sinceramente esta situação e, como já foi dito anteriormente, as averiguações foram levadas até as últimas consequências e daí a instauração de processos disciplinares" aos cirurgiões que participaram no ato cirúrgico sinalizado no relatório pericial da responsabilidade da Ordem dos Médicos.
Ana Valverde ressalva que estes processos permitirão aos cirurgiões envolvidos elaborar a sua defesa, vincando que não existem ainda conclusões que permitam indicar responsabilidades definitivas de qualquer um dos profissionais envolvidos.
"Na saúde lidamos diariamente com situações de doença complicada e em fases avançadas, mas temos a absoluta confiança nos profissionais do nosso hospital, em que todos os dias fazem o seu melhor de acordo com as boas práticas médicas", salienta a responsável.
Segundo Ana Valverde, as conclusões do inquérito do hospital foram já enviadas para todas as entidades competentes, nomeadamente para a Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS), Entidade Reguladora da Saúde (ERS), Ministério Público (MP), Ministério da Saúde e Ordem dos Médicos.