
O objeto escolhido pela cantautora, compositora, instrumentista.
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No início deste mês fui aventurar-me sozinha para Nova Iorque. Foi a primeira vez que atravessei o oceano e quando cheguei ao outro lado ainda cheirava a verão. No segundo dia andei 20 quilómetros e fui descansar para o Central Park. Depois de um humilde pic-nic pus-me a andar de novo, sem rumo, enquanto ouvia a primeira música do novo álbum dos Big Thief, chamada "Incomprehensible", que serviu de presságio para aquilo que ia acontecer de seguida.
Comecei a sentir, vindo do mundo exterior, um ritmo profundo e intenso, que chamava por mim. Fui ao seu encontro e deparei-me com uma fila de percussionistas de variadas idades e etnias sentados num banco, a tocar sem parar. Um deles, especialmente excêntrico, estava de pé a dar instrumentos a quem passava e parava para escutar. Dei por mim a tocar maracas, sem saber como, apenas levada pelo magnetismo daquele animal infinito que crescia e se alterava continuamente. Era ritmo e era contagioso, sedento de movimento. Passado um tempo, William (o senhor excêntrico) chama-me para me sentar no banco e experimentar tocar uma conga. Digo-lhe "I don"t know how to play", ao que ele responde, de imediato, "Never say that! Here, one hand after the other, just warm up".
As minhas pequenas e frágeis mãos tocaram. Depois queixaram-se, a sua pele vermelha e pouco resistente, mas continuaram a tocar. O bicho infinito pedia alimento e eu não conseguia parar de lho dar. Fiquei lá cerca de hora e meia, até anoitecer, e quando fui despedir-me de William e agradecer-lhe, ele disse que eu aprendia rápido e ofereceu-me um anel azul que tenho usado todos os dias desde então. Sempre que olho para ele consigo ouvir a sua voz indignada a dizer-me "Never say you don"t know how to play! It"s not a test, it"s just practice".
No início deste mês fui aventurar-me sozinha para Nova Iorque. Foi a primeira vez que atravessei o oceano e quando cheguei ao outro lado ainda cheirava a verão. No segundo dia andei 20 quilómetros e fui descansar para o Central Park. Depois de um humilde pic-nic pus-me a andar de novo, sem rumo, enquanto ouvia a primeira música do novo álbum dos Big Thief, chamada "Incomprehensible", que serviu de presságio para aquilo que ia acontecer de seguida.
Comecei a sentir, vindo do mundo exterior, um ritmo profundo e intenso, que chamava por mim. Fui ao seu encontro e deparei-me com uma fila de percussionistas de variadas idades e etnias sentados num banco, a tocar sem parar. Um deles, especialmente excêntrico, estava de pé a dar instrumentos a quem passava e parava para escutar. Dei por mim a tocar maracas, sem saber como, apenas levada pelo magnetismo daquele animal infinito que crescia e se alterava continuamente. Era ritmo e era contagioso, sedento de movimento. Passado um tempo, William (o senhor excêntrico) chama-me para me sentar no banco e experimentar tocar uma conga. Digo-lhe "I don"t know how to play", ao que ele responde, de imediato, "Never say that! Here, one hand after the other, just warm up".
As minhas pequenas e frágeis mãos tocaram. Depois queixaram-se, a sua pele vermelha e pouco resistente, mas continuaram a tocar. O bicho infinito pedia alimento e eu não conseguia parar de lho dar. Fiquei lá cerca de hora e meia, até anoitecer, e quando fui despedir-me de William e agradecer-lhe, ele disse que eu aprendia rápido e ofereceu-me um anel azul que tenho usado todos os dias desde então. Sempre que olho para ele consigo ouvir a sua voz indignada a dizer-me "Never say you don"t know how to play! It"s not a test, it"s just practice".
Rita Cortezão, 25 anos, acaba de lançar "tudo, um pouco", primeiro disco de originais, que será apresentado ao vivo a 21 de novembro na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. Nesse dia, é lançada uma edição em vinil. Dez canções com voz e piano. "A todas as pessoas que observo discretamente nos transportes públicos e que nunca irão saber que escrevi um disco para elas", escreve nos agradecimentos.
