
De militar reformado a presidente polémico, Jair Bolsonaro construiu uma carreira marcada por controvérsias, atentados e processos judiciais, mantendo-se uma figura central da política brasileira, mesmo estando preso.
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Bolsonaro voltou ao centro das atenções. Foi detido após danificar a pulseira eletrónica que monitorizava a sua prisão domiciliária, agravando a situação judicial que já o mantinha sob vigilância apertada. As autoridades consideraram haver risco de fuga, devido à proximidade da sua residência, em Brasília, com várias embaixadas, incluindo a dos Estados Unidos. O ex-presidente alegou ter sofrido um "ataque psicótico", descrevendo alucinações provocadas por alterações na medicação, no momento em que tentava cortar o dispositivo que usa há meses na perna com um ferro de soldar. O episódio ocorreu horas depois de o filho, o senador Flávio Bolsonaro, convocar uma vigília de apoiantes no condomínio onde o ex-chefe de Estado cumpria a detenção, aumentando receios de uma possível mobilização política.
A detenção insere-se no processo relativo aos ataques de 8 de janeiro de 2023, quando milhares de apoiantes de Bolsonaro invadiram o Congresso, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto. A ofensiva, transmitida em direto para todo o país, ficou conhecida como a "invasão do Capitólio brasileiro", numa alusão aos acontecimentos de Washington, em 2021, quando apoiantes de Donald Trump tentaram impedir a certificação eleitoral. No Brasil, a destruição de património público, o ataque às instituições e a coordenação entre grupos radicais levaram a Procuradoria-Geral da República a atribuir responsabilidade política e moral a Bolsonaro.
Segundo a acusação, o ex-presidente incentivou a mobilização com discursos que colocavam em causa a legitimidade das eleições e articulou, com aliados civis e militares, um plano para impedir a transferência de poder.
Em setembro, após meses de investigação e depoimentos de militares, antigos ministros e assessores próximos, o Supremo Tribunal Federal concluiu que Bolsonaro liderou uma organização criminosa destinada a subverter o processo democrático. Foi condenado a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, incitação de atos antidemocráticos e danos ao património público. A decisão judicial impôs medidas cautelares rígidas: prisão domiciliária, proibição de contatos com outros acusados, limitações de comunicação e utilização obrigatória de pulseira eletrónica. A violação dessas condições - agravada pelo risco de fuga - levou os juízes a determinarem a prisão preventiva imediata, classificando o comportamento do ex-presidente como "grave e deliberado".
Jair Bolsonaro nasceu a 21 de março de 1955 em Glicério, no estado de São Paulo. Militar formado na Academia Militar das Agulhas Negras, atingiu o posto de capitão antes de entrar na política. Foi deputado federal durante quase 30 anos, eleito pelo Rio de Janeiro, e sempre ligado a partidos de Direita, defendendo causas conservadoras e um discurso de forte apelo militarista.
Em 2018, venceu as eleições presidenciais pelo PSL, após uma campanha marcada por retórica agressiva, críticas à política tradicional e pelo atentado à faca que lhe provocou lesões graves e exigiu múltiplas cirurgias ao longo dos anos seguintes. A sua presidência (2019-2022) ficou marcada por confrontos institucionais, tensões ambientais, desgaste diplomático e polémicas na gestão da pandemia. Nesse período, cultivou uma relação estreita com Donald Trump, baseada em afinidade ideológica e apoio recíproco em disputas políticas.
Bolsonaro é casado com Michelle, com quem tem uma filha, Laura. Tem ainda quatro filhos de relações anteriores: Flávio, Carlos, Eduardo e Renan. Flávio e Eduardo, com forte presença na política nacional, tornaram-se vozes constantes de apoio ao pai e figuras centrais na mobilização dos seus seguidores, multiplicando críticas ao Supremo Tribunal Federal e às decisões judiciais que atingem a família.
Mesmo afastado do poder, Bolsonaro mantém forte presença digital. No LinkedIn continua a apresentar-se como "Presidente do Brasil" e, nas restantes redes, as suas publicações continuam a gerar divisão e a ser amplamente acompanhadas pelos media e por milhões de apoiantes.
A sucessão de decisões judiciais, episódios clínicos e acontecimentos como a pulseira eletrónica danificada consolidaram internacionalmente a imagem de um ex-presidente sob forte escrutínio institucional, ainda influente no espaço público, mas marcado por processos que continuam a moldar o cenário político e judicial brasileiro. O lema "Ordem e Progresso", que está inscrito na bandeira nacional, continua a não ser espelho do que realmente se passa no país. E Bolsonaro insiste em não sair de cena.
Cargo
Ex-presidente do Brasil
Nascimento
21/03/1955 (70 anos)
Nacionalidade
Brasileira (Glicério, São Paulo)
