Uma viagem às festas passadas em casa dos avós, invariavelmente com as mesmas músicas, os mesmos filmes, os mesmos programas. Mas também ao presente. Ao filho bebé e ao turbilhão que lhe inundou a vida. Uma conversa natalícia que é também sobre a maternidade e a saúde mental, sobre uma carreira que vai de vento em popa e o peso do mediatismo. E sobre o presente de que o Mundo mais precisa.
Quando recua aos Natais que lhe fizeram a infância e o início da adolescência, há uma memória particularmente nítida: a da família reunida, por entre o doce aroma dos bolos e do amor, a ver a emissão especial de "Bravo Bravíssimo", programa de talentos emitido pela SIC entre 1994 e 2002. "Já na altura achava: "Um dia, pode ser que tenha essa sorte"." Como se o futuro de Sara Matos, hoje nome maior da ficção nacional, se anunciasse ali mesmo, naqueles serões pintados a afetos e magia, que haveriam de ser parte indelével do imaginário da quadra. "O Natal foi desde sempre uma época muito mágica. Até por calhar no mês do meu aniversário [completa 33 anos a 20 de dezembro]. Sempre foi uma época que me transportou para um mundo de fantasia, com os cheiros dos bolos e as velas, com a mesa farta e os enfeites, com os programas em família." Onde, lá está, não podia faltar a edição especial do "Bravo Bravíssimo". Mas também as músicas da época cantadas em uníssono. E os filmes, esses que transbordam Natal por todos os lados. "O "Sozinho em casa", então, tínhamos de ver todos os anos", lembra Sara, o olhar feliz perdido nas memórias que sabem a casa. "Ainda hoje continuo a ver, para conseguir transportar-me para essa altura, para conseguir viajar, para voltar à Sara pequenina."
Durante anos, a festa fez-se na casa dos avós, em Lisboa. Com a mãe, o irmão, os tios, os primos. "Nos filmes há imensa gente à mesa e eu sempre adorei essa imagem. Logo eu que sou uma eterna romântica. Mas nunca tive uma família alargada." Eram poucos, mas bons. E o espírito da quadra, no que de mais profundo tem, nunca faltou. "Foi sempre uma época muito dedicada à família, a biológica e aquela que escolhemos ter. Acho que é a única altura em que as pessoas se libertam daquela pressão profissional que existe durante o ano todo e realmente relaxam." Já as prendas eram sempre com conta, peso e medida. "Nunca tive muitos presentes nem nunca senti que isso fosse uma preocupação. Preocupávamo-nos mais em estar juntos, em cantar as músicas de Natal, em ver os filmes de sempre. A minha família nunca cultivou essa parte consumista." Jura até que não consegue recordar-se de um presente que a tenha marcado particularmente. "Acho que isso é tudo aquilo de que não devíamos falar quando falamos de Natal", atira, contundente, mas sempre a sorrir.