António José GouveiaTudo para pôr a cruzinhaOs portugueses são conhecidos por reagir à adversidade com flexibilidade e rapidez. Na última semana, esteve no espaço público a possibilidade de as eleições presidenciais serem adiadas devido ao cavalgar da pandemia de covid-19 no país e as consequentes duras medidas de confinamento.
António José GouveiaNão foi milagre, foi ciênciaForam os primeiros a serem vacinados contra a covid e nada melhor que a comunidade da saúde para dar o exemplo de que continuam a sua luta contra a pandemia.
António José Gouveia(I)magina só, EduardoImaginem só. Na semana em que morreu um agente da polícia e que outro cidadão ucraniano se queixou de maus-tratos numa esquadra, Magina da Silva, o diretor nacional da PSP, resolveu borrifar-se para o ministro da Administração Interna e, à saída de uma audiência com Marcelo, revelou o que andaria a ser pensado em termos de reorganização das polícias. Acabar com a PSP e o SEF e fazer-se uma fusão de uma "polícia nacional", à semelhança das congéneres europeias.
António José GouveiaTudo está bem quando acaba bemConsistência e continuidade. Após três dias reunido em congresso, o PCP não conseguiu acrescentar ao debate mais do que aquilo que já demonstrou ao longo de décadas.
António José GouveiaA vacina de TrumpAfinal, o anúncio de Donald Trump de que uma vacina eficaz contra o novo coronavírus estaria para vir verificou-se. Numa daquelas raras declarações não mentirosas, Trump antecipou-se à farmacêutica Pfizer, que revelou ontem dados provisórios que indicam que a nova vacina poderá resultar em 90% dos casos. O atual presidente, que perdeu as eleições para Joe Biden, apressou-se a espalhar a notícia pela rede social Twitter, pondo a tónica de que "as bolsas já estão a subir acentuadamente". Não que tal parasse a pandemia, que evitasse mortes ou desse um novo alento à economia mundial.
António José GouveiaRecatados e espalhafatososAntónio Costa disse ontem ao que vinha no debate do Orçamento do Estado para 2021. Ignorou Catarina Martins e elogiou Jerónimo de Sousa, fazendo lembrar as suas declarações de há dois anos quando classificou o Bloco de Esquerda de um partido de "mass media" e os comunistas como um partido de massas, mesmo sabendo que o PCP tem vindo, nos últimos anos, a perder eleitorado. E se os comunistas negociaram este Orçamento "sem espalhafato", segundo palavras do primeiro-ministro, o que não faltou aos bloquistas foi o barulho mediático nas duas últimas semanas. Percebe-se que, para esta legislatura, dure o que durar, António Costa desistiu do Bloco de Esquerda para se centrar no seu aliado mais reforçado, o PCP, e o esporádico PAN. Ficou patente que a estratégia do primeiro-ministro passa por roubar eleitorado aos bloquistas ao acusar Catarina Martins "de desertar" e se juntar à Direita nesta votação do Orçamento. Já está a capitalizar os dados de uma sondagem publicada ontem pelo "Jornal de Notícias" que dava conta que a maioria do eleitorado do BE preferia que o Orçamento passasse, fosse com voto a favor ou pela via da abstenção. E isso viu-se ontem: "Não vale a pena polarizar entre nós o debate", ironizou o primeiro-ministro. Não foi por acaso que António Costa começou a sua intervenção pela tema da Saúde, a grande divergência com os bloquistas, comparando o orçamento do Serviço Nacional de Saúde (12,1 mil milhões de euros) com a "bazuca" que virá de Bruxelas nos próximos anos. Tudo para minimizar os argumentos de Catarina Martins, que acusa o Governo de ter baixado o valor a distribuir no próximo ano quando estamos em circunstâncias pandémicas. Quando hoje se for votar o Orçamento na generalidade, que em princípio será aprovado, a vingança do BE vai estar lá na frente, nas discussões na especialidade. Que vai infernizar o Governo, isso vai.
António José GouveiaDespesa hoje, impostos amanhãAntónio Costa, em abril e em plena pandemia, avisou que as "despesas do Estado hoje são impostos amanhã". É bom lembrar esta frase vezes e vezes sem conta porque os cerca de 10 mil milhões de euros de défice previstos para o Orçamento do Estado para 2021, a juntar aos 7 mil milhões deste ano, terão de ser pagos.
António José GouveiaO presidente mais pobre do país mais ricoNos Estados Unidos, quem deve ao Fisco é um criminoso. Quem foge ao Fisco é um criminoso de alto calibre. As brigadas fiscais são comparáveis aos polícias de intervenção rápida em crimes de sangue.
António José GouveiaA bolha nas moratóriasMuito se tem falado em bolhas nos últimos tempos, principalmente desde o início do ano letivo.
António José GouveiaA linha ténue no futebolCompreende-se a preocupação de Pinto da Costa quando, em declarações ao jornal "O Jogo", refere que o primeiro-ministro António Costa "ficará na história como o homem que asfixiou os clubes".
António José GouveiaCana para pescarAqui não há dramatismo. Não há pânico, mas também não há boas notícias. Há factos e eles são, só por si, demonstrativos de que esta crise está apenas a começar. É a ponta do icebergue e esperemos que não venha todo à tona. O segundo trimestre deste ano foi o pior período da história de muitas companhias e os resultados das empresas cotadas dizem isso mesmo: de janeiro a junho, os prejuízos globais somam 17,6 mil milhões de euros, como consequência da paralisação quase total durante o confinamento devido à covid-19.
António José GouveiaFilantropos e pedintesEstamos safos? António Costa diz que não, apesar dos mais de 15 mil milhões de euros que a União Europeia nos vai dar para combater a crise provocada pela pandemia. E "dar" é a palavra correta.
António José GouveiaÀ espera do salvadorO Parlamento acabou, esta sexta-feira, por aprovar o Orçamento Suplementar. Perante o monstro que é a pandemia da covid-19, era essencial que o que foi pensado em dezembro em termos de futuro do país fosse novamente refeito.
António José GouveiaFestas legais e ilegaisTanto o primeiro-ministro como o presidente da República voltaram a sublinhar a necessidade de "um quadro punitivo" ou "medidas mais duras", respetivamente, relacionadas com os ajuntamentos que se vão vendo um pouco por todo o país, mas com maior incidência em Lisboa e no Algarve, onde as festas ilegais começaram a proliferar, quebrando assim as regras antipandemia. Ambos, com razão, mostraram a sua preocupação por uma doença que não pára, trazendo para a contabilidade dos números más notícias. Portugal passou, num espaço de dois meses, de um exemplo para a Europa no combate à covid para um dos únicos países em que é vedada a entrada nas fronteiras de uma série de estados-membros da União. Centrados em que haja aqui um equilíbrio entre a erradicação da pandemia e o voltar à normalidade, tanto António Costa como Marcelo Rebelo de Sousa deveriam tentar compreender o comportamento dos portugueses com o verão à porta. Como latinos que somos, a vivência nesta época do ano é na rua e, se possível, até de madrugada. Como é verificável, os ajuntamentos em vários pontos das cidades do país são uma alternativa ao fecho obrigatório dos cafés e afins às 23 horas. O que fez o Governo? Diminuiu ainda mais o horário para as 20 horas. Tendo em conta este cenário, o que é melhor? Parece de bom senso que uma extensão do horário dos cafés e restaurantes para além do estipulado permitiria manter as pessoas dentro das regras e com maior segurança. A outra opção é juntarem-se às centenas em jardins e espaços públicos onde o controlo do distanciamento social não existe. No fundo, em vez de estarem concentradas no espaço público, estariam espalhadas pelos vários restaurantes, cafés e esplanadas e dentro do que são as regras básicas de combate à pandemia. Ou seja, um entretenimento controlado e confinado, como aliás o fizeram Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa este fim de semana. O presidente da República no Centro Cultural de Belém, para assistir ao concerto comemorativo do aniversário da Orquestra Metropolitana de Lisboa, e o primeiro-ministro num espetáculo no Teatro Nacional D. Maria II.
António José GouveiaNão é ilegal, é imoralNuma altura em que a Europa se prepara para jorrar dinheiro a fundo perdido nas economias mais atingidas pela pandemia, Bruxelas deveria começar a preocupar-se com um dos problemas mais prementes e essenciais para que exista uma verdadeira União. Estamos a falar da assimetria fiscal nos 27 estados-membros.
António José GouveiaNão sejas parvoNão sei quem escolheu o nome, mas se foi para chamar aos portugueses parvos, não podia ser melhor.
António José GouveiaUm otimismo que se ganhaCom a crise à porta devido à pandemia da covid-19, a sustentabilidade da Segurança Social volta a ser posta em causa. Conseguir que os que trabalham contribuam o suficiente para sustentar as reformas, subsídios de desemprego e afins será uma tarefa hercúlea para a próxima década. Logo agora que estava a correr tudo tão bem, o novo coronavírus veio trazer uma das recessões económicas mais profundas da história.
António José GouveiaO Diabo veste coronaNão se sabe qual seria a forma do Diabo em que Pedro Passos Coelho tanto insistiu nos anos que se manteve como líder da oposição ao Governo e à geringonça.
António José GouveiaPerdeu-se a batalha, não a guerraO acordo alcançado na quinta-feira sobre o pacote financeiro de 500 mil milhões proposto pelo Eurogrupo liderado pelo ministro das Finanças português tem uma novidade assaz pertinente: o famoso eixo Paris-Berlim não funcionou.
António José GouveiaO monstro vem aíO Governo adotou medidas excecionais para tempos excecionais no mercado laboral, sendo que obrigou os trabalhadores e empresários ao confinamento e está a dificultar ao máximo que haja despedimentos em massa.
António José GouveiaO normal é errarNa história da Humanidade, nunca houve uma crise em que a ciência desempenhasse um papel tão decisivo. Apesar disso, não existe um consenso de como atuar perante tamanha monstruosidade.
António José GouveiaO vírus e a picuinhiceAs grandes crises financeiras começam sempre por pormenores insignificantes, por picuinhices. Nada a que as economias deem grande importância até se tornar um enorme problema. Uma pequena barata irrequieta que se transforma num verdadeiro exército.
António José GouveiaOs galgos desnutridos e os gansos alimentados à forçaPodem os animais sofrer? Tudo isto tem a ver com o quase longínquo discurso de Joaquin Phoenix na cerimónia dos Oscars, quando subiu ao palco e recebeu o prémio de Melhor Ator pelo seu desempenho no filme Joker.
António José GouveiaViver à custa dos outrosParasitas. Não, não é o filme coreano que surpreendeu o mundo ao ganhar quatro Oscars na madrugada de ontem. Nem um senhor que tem nome de desenho animado ou de uma onomatopeia de banda desenhada: Bong! Estamos a falar de quem come ou vive custa de outro ou de outros, conforme está escrito no dicionário. Também pode significar inútil e supérfluo. Do grego parásitos, que come à mesa de outro. Toda esta introdução para classificar a leviandade com que os deputados debateram as mais de mil propostas de alteração ao Orçamento do Estado. Como os parasitas fazem tão bem, assistiram-se a jogos de sobrevivência e de estratégia para continuarem vivos, mesmo que à custa das famílias e das empresas, afogadas em impostos. Estes parasitas não puxam pela economia, apenas entregam a quem mais barulho faz e mais poder reivindicativo tem. À Direita, escandalize-se quem voltar a ouvir o CDS ou o PSD criticar o Governo por excesso de carga fiscal. Tiveram a oportunidade de a baixar. Não só pela sua performance no tema do IVA da eletricidade, mas também pela ausência absoluta de propostas para reduzir a fiscalidade, principalmente das empresas, o motor de qualquer economia. No IVA da luz, o PSD perdeu-se na noção daquilo que realmente queria lutar e o CDS, taticamente, colocou-se ao lado do Governo. À Esquerda, as nuances são diferentes mas não deixam de ter semelhanças à comédia negra com assinatura do realizador sul-coreano Bong Joon-ho. O PCP, em vias de mudança de líder, apesar de Jerónimo de Sousa dizer que não vai "calçar as pantufas", não está interessado em eleições e, por isso, está de pedra e cal no apoio a Costa. O Governo conseguiu dividir para reinar e prometer que para o ano é que é a verdadeira baixa de impostos. Deveria ser para ontem. Precisamos de investimento e esse não é o Estado que o faz. Pelo contrário, pesa e de que maneira.
António José GouveiaIVA da luz às escurasSeria a medida que mais poderia favorecer o orçamento familiar de uma forma direta e palpável: a redução do IVA da eletricidade de 23% para 13% ou 6%, conforme as propostas dos vários partidos.