No dia 22 de abril de 2019, o Governo entregava, de forma simbólica, o antigo edifício do Ministério da Educação para alojamento de estudantes. Esta seria uma das ações enquadradas no Plano Nacional de Alojamento para o Ensino Superior (PNAES), lançado no final de 2018, com vista a duplicar a oferta de camas existentes à data. A oferta existente era de cerca de 15 mil camas, o que representava uma cobertura inferior a 10%, face aos mais de 175 mil alunos deslocados. O saldo final, cinco anos depois, é uma rede de 15 mil camas, ou seja, estamos exatamente no mesmo ponto onde estávamos quando o Governo lançou o programa para o alojamento estudantil.
Este fiasco tem sérias implicações na vida dos estudantes e das suas famílias. Basta pensarmos que o preço médio de um quarto em Lisboa ronda hoje os 450 euros e no Porto ultrapassa também já os 400 euros. Num país com uma classe média completamente asfixiada por uma elevada carga fiscal e com cerca de 40% de famílias com rendimentos tão baixos que nem sequer pagam IRS, é relativamente fácil compreender a dimensão do problema. O alojamento estudantil é hoje a principal barreira à entrada e à frequência do Ensino Superior. Arranjar quarto em muitas cidades deste país para um filho entrar na universidade ou no politécnico está já apenas ao alcance de algumas famílias. E esta circunstância tem tanto de revoltante como de socialmente injusto.
O Governo agora promete novamente milhares de camas até 2026. Infelizmente, o histórico do Partido Socialista não nos permite ter grandes expectativas. E enquanto isso, assistimos a uma elitização inaceitável do Ensino Superior. Só quem tem dinheiro para pagar quartos a preços exorbitantes consegue entrar no Ensino Superior. Longe vai o tempo que era a média e o esforço de anos de estudo a ditarem a entrada neste nível de ensino. É tempo de o Governo arrepiar caminho e avançar já com medidas urgentes para apoiar estes alunos e as suas famílias. Seja por via da contratualização com entidades privadas ou câmaras municipais, seja através do aumento do complemento de alojamento, a certeza que temos é que alguma ação tem de ser tomada. Se nada for feito, estaremos a condenar uma geração a ter os seus sonhos dependentes do tamanho da carteira dos seus pais.
