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Mesmo as ditaduras têm o seu lado positivo. Por exemplo, Hitler dotou a Alemanha de uma magnífica rede de auto-estradas e Mussolini fez os comboios italianos partirem e chegarem à tabela. De Salazar, nesse aspecto, pode dizer-se, por exemplo, que acabou com a imensa maçada e a enorme despesa que eram as eleições presidenciais. Depois de, em 1958, Humberto Delgado ter feito abalar, por pouco que fosse, os alicerces de um regime de cimento armado (e bem armado...), ele resolveu o problema: substituiu a eleição de sufrágio universal por um colégio eleitoral.
Em democracia, é claro, as coisas não são assim tão fáceis, há que cumprir formalidades, mesmo sabendo que são de utilidade nula. Por isso está em curso uma campanha eleitoral, vão realizar-se comícios, afixarem-se cartazes, as televisões fazem frentes-a-frentes em vez de estarem, mais proveitosamente, a passar telenovelas - e os cidadãos também fingem que isso é suficientemente importante para alimentarem dúvidas ou perderem o seu tempo frente ao pequeno ecrã. Porque esta campanha eleitoral vale tanto como valiam as campanhas para eleger a Assembleia Nacional da ditadura - isto é, novo (?) presidente já temos, só falta a confirmação oficial.
Mesmo as democracias têm o seu lado negativo, como seja este de irem gastar-se fortunas e obrigar os eleitores a acorrer às urnas para se confirmar aquilo que de antemão se sabe. E, para concluir, socorro-me de uma afirmação do insuspeito dr. Santana Lopes: "é uma vergonha para a democracia portuguesa o tempo dedicado aos debates presidenciais". De facto, há momento em que me apetece pensar que a democracia pode, eventualmente, ser um pouco chata...
