Maio é o mês das mães. No primeiro ou segundo domingo do mês, um pouco por todo o Mundo, crianças e jovens celebram as suas mães e reconhecem todo o trabalho que têm com os seus cuidados incessantes.
Há séculos que, culturalmente, foram atribuídas maioritariamente às mulheres os cuidados de crianças, idosos e pessoas dependentes, associando-se a sua capacidade reprodutiva, real ou presumida, a uma natural tendência para tais atividades e, inerentemente, para a lida doméstica. Só no século XX este paradigma começou a ser desafiado, por desigual e incorreto, e só há cerca de 50 anos os homens começaram a participar, embora ainda hoje a sua contribuição seja incipiente, em termos globais.
A maioria das mães vê nas suas tarefas pelas lentes do amor e não cogita sequer em atribuir-lhes um valor económico. Mas ele existe; e é enorme.
Segundo dados da Comissão Para a Cidadania e Igualdade de Género, o valor do trabalho não pago de cuidado e doméstico em Portugal representa, no mínimo, €40 mil milhões/ano. O valor do trabalho realizado por mulheres ascende a quase 70% do total do valor monetário do trabalho de cuidado e doméstico e o seu impacto económico, se contemplado no cálculo do PIB, teria um peso estimado de 15,6% a 26,6% do total.
Muitos sugerem que o trabalho feminino, que tem sido convenientemente invisível, deve passar a ser remunerado, assim se compensando o desequilíbrio em relação aos homens, que dele beneficiam gratuitamente, afinal.
Se esta é uma solução justa, pois reconhece o devido valor ao tanto que fazem as mulheres e sobretudo as mães, uma outra tem de ser paralela, até a substituir completamente: os pais, e os homens em geral, devem passar a trabalhar como as mulheres o têm feito, cuidando de crianças e idosos, da vida doméstica e da organização familiar, sem preconceitos nem limites.
Só deste modo as mães ficarão livres para viver a maternidade sem sobrecargas e para celebrar o seu dia sem reservas e sem jamais pensar em trabalho.
*Secretária do Conselho Fiscal da AJP