A pretexto da política da judicialização muitos criticam a atitude da Associação Comercial do Porto de apresentar, no Supremo Tribunal Administrativo, uma providência cautelar para impedir as transferências de capital do Estado para a TAP.
Ao mesmo tempo, vamos observando como é que o Novo Banco vai continuando a ser um enigma para os contribuintes portugueses e assistimos a um acelerar de mandar para julgamento vários processos mediáticos que, depois de ajudarem os jornais a venderem e as televisões a alimentarem espaços comerciais, muitas vezes acabam, após sucessivos recursos, ainda que sem o destaque que existe na acusação, na absolvição dos réus. Exemplo flagrante foi o caso do antigo ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, sacrificado nos altares da ética republicana e absolvido, ao fim de quase sete anos, no limbo judicial.
O primeiro-ministro encontra na sua ministra da Saúde o escape para poder sair desta crise da covid-19, como alguém que fez tudo para permitir ao país continuar a viver numa espécie de paraíso da globalização.
Tudo isto não seria trágico se não estivesse em causa a vida das pessoas.</p>
O sucessivo adiamento das reformas que Portugal necessita acaba por ser a causa deste estado de coisas. Faltam vozes críticas para dizer que as coisas não vão bem.
O exercício sucessivo de equilíbrio político não pode justificar valer tudo para ganhar eleições. Temos vivido, assim, nos últimos tempos.
Uns dizem que está tudo bem porque querem, com a maior maioria de sempre presidencial, ser reeleitos. Outros querem aguentar o seu governo, segurar o espaço da Esquerda política não fazendo nenhumas reformas. Seja do sistema eleitoral, fiscal, económico ou do Serviço Nacional de Saúde e das políticas sociais.
Esta crise demonstrou que o tempo não é estático, que basta desejar para não haver austeridade. Vai, estamos a ser preparados para ela... ainda que devagarinho.
As pessoas, que são eleitores e contribuintes, estão desorientadas, irritadas e preocupadas. O que a covid-19 provocou foi trazer à tona da água as nossas debilidades e, tal como noutros momentos da nossa vida coletiva, não vale a pena trazer fantasmas do passado para atenuar os nossos erros do presente. Será sempre preferível aprender com eles para não os repetir no futuro.
Churchill terá concebido a diferença entre um estadista e um simples político, porque o primeiro pensava nas próximas gerações e o segundo nas próximas eleições.
A nossa solução política não poderá ser ter como alternativa André Ventura ou, mais uma vez, esperar desesperadamente pela União Europeia.
Precisamos de iniciativa política para fazer as reformas que o país reclama há muito tempo e a sustentabilidade do nosso modelo social e de desenvolvimento económico exige.
<p>Vamos discutir o futuro de Portugal? A propósito, onde andam as reformas de António Costa Silva?
*Professor universitário