Opinião

Humanizar os cuidados de saúde!

Humanizar os cuidados de saúde!

No século XXI, a humanização dos cuidados de saúde é um dos fatores que se advogam como essenciais para a sustentabilidade do SNS, e para a cativação de profissionais de saúde motivados, para uma área tão exigente como é a defesa da saúde e da vida.

Os médicos e restantes profissionais devem ser, além de altamente competentes do ponto de vista técnico e científico, alguém a quem seja dada uma preparação contínua que os alerte para os constantes e diferentes desafios que diariamente enfrentam. Devem ser sensibilizados para desenvolverem em si próprios sentimentos de cuidadores, e reconhecerem e aceitarem com naturalidade a iliteracia que fervilha entre os doentes. Não por culpa destes, já se sabe, mas pela linguagem própria da medicina, por vezes tão cerrada, nas suas diferentes vertentes.

Nesse sentido importa refletir sobre como poderá a sociedade, particularmente quem tem a responsabilidade de decisão e gestão política da saúde, ajudar a alcançar uma humanização dos cuidados de saúde que diariamente são prestados nos mais diversos estabelecimentos, quer sejam do setor público, privado ou social, contribuindo para alcançar os objetivos que se desejam - mais e melhores cuidados de saúde.

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Não parece tarefa hercúlea ou sequer impossível, alcançar resultados que nos conduzam a um futuro onde exista mais confiança e proximidade entre o médico e o doente, onde se privilegiem cuidados de saúde que cumpram as respetivas e indispensáveis necessidades de conforto, qualidade, segurança, eficiência e eficácia.

Além da formação específica destes profissionais, sensibilizando-os para a condição especial de "ser" ou "estar" doente, que implica naturalmente o reconhecimento da existência de ansiedades, medos e inseguranças, ou mesmo o desenvolvimento de sentimentos de solidão e desamparo, é essencial também que o próprio sistema ofereça condições hoteleiras e organizacionais amigáveis para os utentes.

Nas últimas décadas, tem-se verificado um esforço por parte das administrações hospitalares no melhoramento da eficiência económico-financeira, mas pouco se viu no que toca à implementação de medidas que visem melhorar ou mais humanizar a forma de tratar os doentes, na fase de internamento.

Muito resta ainda por fazer no que respeita à melhoria da salubridade, urbanidade e educação cívica dentro dos hospitais, e também, não menos importante, no acolhimento ao doente, para que ninguém circule perdido pelos corredores dos hospitais e nada justifica, que em horários noturnos, os doentes sejam perturbados com ruídos de vozes que lhes estorvam o sono e o descanso, fundamentais para a sua recuperação.

Por outro lado, compete também ao doente ser um utilizador urbano e respeitador dos serviços de saúde.

Desengane-se, pois, quem pensa que o problema apontado possa ser resolvido apenas por decisores políticos, médicos e restantes profissionais.

O bem-estar na saúde deve convocar toda a sociedade!

Neste desígnio também não será despiciente o recurso a métodos de avaliação e escrutínio público, que por si só, está mais que demonstrado, fazem avançar a performance e a qualidade

Só assim se poderá consolidar a verdadeira humanização na saúde!

Fazê-lo é uma questão de progresso civilizacional, de respeito pelos direitos humanos, e fundamental para a realização dos cuidados de saúde de qualidade, incluindo-se nesse caminho os doentes, que não devem deixar de apresentar sugestões que visem e ajudem aprimorar essa qualidade que se pretende.

*Médico

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