Ser resiliente. Este foi um ano adiado. Acreditamos muito que, por esta altura, estaríamos mais libertos de um vírus que pesou demasiado na nossa vida. E não estamos. Se pensarmos bem, foi assim que vivemos 2021. À espera de melhores dias, confrontando-nos em permanência com um quotidiano que não queríamos viver. E vivemos. E isso tornou-nos certamente mais resistentes à adversidade.
Trabalhar (ainda mais) depressa. Quem tem uma atividade profissional relacionada com o campo do jornalismo incorpora em si a pressão do tempo. E estende esse ritmo muitas vezes frenético ao dia a dia. Ora, este ano, aprendi a acelerar mais. Por necessidade. De repente, o dia ficou apertado entre as 8.30 h e as 16.30 h, horário em que o meu filho permanecia na escola. Fora dessa linha de tempo, por causa da pandemia, não havia boleias a pedir, nem passagens por outras casas a servir de apoio para que o meu trabalho ganhasse mais horas. E lá consegui fazer tudo. Mais depressa e em horários dilatados pela noite adentro.
Valorizar o que está próximo. Este não foi o tempo das grandes viagens e dos grandes convívios. Foi antes a oportunidade de fazer caminhadas perto de casa e promover pequenos encontros em esplanadas. E lá andei mais a pé e conversei mais com pessoas que conhecia menos e que tão próximas estão.
Relativizar a importância do que acontece. Habituada a ponderar bastante tudo, sinto sempre dificuldade em ganhar distância para ver em perspetiva certas coisas. Esta semana, por questões de trabalho, estou a recuperar os números de infetados desde março de 2020 até hoje. A 1 de abril de 2020, registaram-se 783 casos positivos e o país estava fechado em casa; a 15 de janeiro de 2021, houve 10 947 casos e o país regressou a um confinamento severo; hoje os números apresentam-se numa escala impensável e nós vamos aprendendo a lidar com esta situação. É verdade estamos vacinados e os casos são menos graves, mas também é um facto que ganhamos outro olhar sobre o problema.
Ser positiva. Encontrando na comunicação da saúde parte da investigação académica que desenvolvo e acompanhando em permanência a atualidade noticiosa, tem sido para mim difícil desligar do tema covid-19. Mas encontrei um modo de me defender desta hecatombe, pensando sempre como a ciência nos salva e como pessoas boas nos abrem tanto caminho. E isso nunca faltou neste tempo: conhecimento científico, por um lado; e gestos de grande solidariedade, por outro.
É assim, munida destas lições, que atravessarei o ano, acreditando que o melhor está para vir. Bom ano!
*Prof. associada com Agregação da UMinho