Anglófilo confesso, sempre apreciei aquelas pequenas idiossincrasias britânicas que juntam um cosmopolitismo desmedido com uma certa atitude isolacionista, um paradoxo curioso. Com o processo do Brexit, este equilíbrio foi quebrado e o reino parece ter entrado numa espiral descendente, em que os líderes políticos têm medo da própria sombra e atiram para cima dos migrantes a fonte de todos os males. A nova política de imigração, que prevê a deportação para o Ruanda dos desgraçados que atravessam a Mancha de barco à procura de abrigo, que nem o próprio Governo sabe se é legal à luz do direito internacional, é o produto de um primeiro-ministro e uma ministra do Interior filhos de imigrantes, um paradoxo tenebroso. E no fim de contas, a grande voz da razão vem de um futebolista reformado e comentador da bola, um paradoxo (colocar aqui um adjetivo que nem sei como classificar).
