Paula FerreiraA droga, outra vezNo final da década de 90 do século passado, os portugueses indicavam a toxicodependência como o principal problema social do país. Depois disso, foram tomadas medidas estruturais e Portugal tornou-se referência internacional no tratamento do consumo de drogas. Hoje, estamos a dar passos atrás todos os dias. E o consumo de droga transforma-se outra vez num problema sério. Seja pelos novos consumos, seja pelas recaídas dos que se conseguiram libertar, mas voltaram a consumir.
Paula FerreiraVida de professorOs professores saem à rua, só nos resta expressar a nossa solidariedade. Uma das profissões mais determinantes para o futuro do país, ano após ano, tem sido desvalorizada. De quem é a culpa? Não haverá, como é natural, um único culpado, um único fator. Múltiplas razões conduziram à situação a que chegamos. A consequência é dramática. A profissão deixou de interessar aos que atualmente estudam e se preparam para entrar no mercado de trabalho. Não é novidade, vários trabalhos foram feitos: os jovens não se mostram atraídos pelo ensino. Imaginar como futuro de vida um transitório posto de trabalho a centenas de quilómetros de casa e da família, gastar parte do magro ordenado na despesa do alojamento, desconhecer o dia da efetivação numa escola (e poder, enfim, ter estabilidade), não se afigura, como é fácil de compreender, um projeto de vida aliciante. O problema apresenta-se demasiado grave, por essa razão, deve ser tratado com seriedade. Dados divulgados pelo Conselho Nacional da Educação dizem-nos: "uma percentagem ligeiramente superior a 15 por cento dos docentes, da educação pré-escolar e dos ensinos Básico e Secundário, tinha 60 e mais anos de idade" em 2020. Não se manterão ativos, como é evidente, durante muito mais tempo. Mas se recuarmos um pouco, o cenário surge ainda menos animador. Ainda de acordo com dados da CNE, temos "uma percentagem superior a 50 por cento de docentes com 50 e mais anos de idade. Professores com menos de 30 anos não ultrapassam os 1,6 por cento".
Paula FerreiraA elite e a democraciaLula da Silva tomou posse, outra vez, como presidente do Brasil. Ontem, prometeu devolver a democracia e a dignidade ao povo brasileiro. Antes, o operário metalúrgico chegara ao Palácio do Planalto para dar corpo a uma quase utopia. Desapontou, é certo, muitos no Brasil e pelo Mundo que acreditaram ser possível uma nova realidade social e política. Mas os escândalos em que o Partido dos Trabalhadores se envolveu, é preciso dizê-lo, levariam a esse desfecho.
Paula FerreiraO poder do dinheiroO Mundial de Futebol terminou e, não fosse um terramoto a abalar as instituições europeias, quase teria sido esquecido o escândalo de a competição ter como palco o principado do Catar, onde a única coisa que realmente importa é o dinheiro.
Paula FerreiraAnacrónica poupançaCrescemos a ouvir dizer, em várias situações, ser importante poupar. Antes de nós, os nossos pais cultivaram essa prática de não desbaratar o produto de dias de trabalho, quantas vezes duro, mal pago.
Paula FerreiraDe jato pelo clima No Egito discute-se por estes dias o que fazer para travar o aquecimento global. A mensagem que sai de Sharm el Sheik para o Mundo, nomeadamente através das palavras do secretário-geral da ONU, é dramática.
Paula FerreiraO legado de JerónimoFicará na história por ter sido o que deu o passo decisivo. Naquela noite de 4 de outubro de 2015, apesar da troika, a coligação de Direita ganhou aritmeticamente as eleições.
Paula FerreiraO silêncio do derrotadoPor um voto se perde, por um voto se ganha. Jair Bolsonaro perdeu, por uma margem apertada, mas não há qualquer dúvida de que Lula venceu e será o novo inquilino do Palácio do Planalto. O presidente derrotado, esse sim, não atirou ainda a toalha ao chão. À medida que as horas passam, vão sendo cada vez mais os apoiantes do presidente derrotado a assumir que um novo tempo começou. Bolsonaro, esse, continuava a meio do dia de ontem em silêncio.
Paula FerreiraGreta em tempo de guerraA menina que fez greve às aulas, para protestar contra os líderes mundiais que estavam a destruir o seu futuro e do resto dos jovens, cresceu. Mas não desistiu da sua causa. Greta Thunberg está de regresso. Mudada. Já não é a menina de tranças, aparentemente mal-educada. É uma jovem de 19 anos, semelhante a todas as raparigas da sua idade. Igual ao passado, apenas nas causas de que não abre mão.
Paula FerreiraComprar a democraciaÉ um primeiro passo efetivo para mostrar à Hungria que não pode ser membro da União Europeia e, em simultâneo, prosseguir com a sua deriva autocrática. Se não arrepiar caminho, os 7,5 mil milhões de euros em fundos comunitários, no âmbito da política de coesão, jamais chegarão a Budapeste. Soaram as campainhas: o Governo de ultradireita mostra-se disponível para acatar as reformas exigidas por Bruxelas. Em causa estão práticas de corrupção, por falta de concursos públicos, na atribuição de verbas comunitárias.
Paula FerreiraO otimismo do algoritmoQuase um por cento de todo o território nacional foi devorado pelas chamas, desde o início do ano, com principal incidência nas últimas semanas. Estes dados tornam Portugal no membro da União Europeia mais fustigado pelos incêndios, se tivermos em conta a proporcionalidade entre a área queimada e a dimensão do país.
Paula FerreiraTempo de combateÉ triste o espetáculo a que o país assiste, ano após ano. E não me refiro às labaredas, horas e horas a fio desfilando perante os nossos olhos, e com elas a tragédia de quem perde quase tudo o que reuniu ao longo da vida. Uma tragédia, sem dúvida. Mas mais triste espetáculo é o desfiar de argumentos, o apontar de culpas, o aproveitamento do drama.
Paula FerreiraO legado de ChalanaParece ironia. No dia da morte de Chalana, chegam notícias de desacatos em Guimarães provocados por adeptos do Hajduk de Split, da Croácia. Deixaram um rasto de destruição e medo no Centro Histórico da cidade minhota. Como tão bem o ministro da Cultura ontem explicitou, na reação ao desaparecimento do camisola 10 do Sport Lisboa e Benfica, com Chalana desaparece um futebol que nada tem a ver com o vivido hoje em dia, praticado mais fora de campo do que dentro das quatro linhas.
Paula FerreiraO mar a entrar em casaUma caminhada à beira-mar pode bem revelar o modo de ser de um país. Numa praia do Norte, num troço da costa com não mais de 50 metros, está a síntese do que somos. Na duna primária, o movimento das gruas revela um prédio a nascer; escassas dezenas de metros adiante, as máquinas movimentam toneladas de pedra ali colocadas para travar o avanço do mar. Haverá maior contradição?
Paula FerreiraOs donos dos filhosAté onde poderá ir o braço de ferro dos pais de dois alunos de Vila Nova de Famalicão com o Ministério da Educação? Parece de elementar bom senso que os dois jovens, alunos de excelência, não poderão transitar de ano sem terem todo o plano curricular completo. Por decisão familiar, não compareceram a qualquer aula de Cidadania e Desenvolvimento. Assim, chumbaram por faltas, porque a disciplina é obrigatória - decisão da escola, entretanto legitimada pelo Tribunal Administrativo de Braga, num caso que se arrasta desde 2018.
Paula FerreiraHipocrisia verdeO que é verdade hoje, e apresentado como algo inquestionável, bem pode deixar de o ser no dia seguinte. Basta para isso que a economia e a política se intrometam no caminho. A seguir, cria-se uma nova realidade. Nada de muito complicado, afinal.
Paula FerreiraOs direitos humanos na gavetaA Suécia e a Finlândia, até agora países neutrais, devem assinar amanhã o acordo de adesão à NATO. O primeiro-ministro turco levantou a ameaça de veto, após ter a garantia de Estocolmo da extradição de dezenas exilados políticos curdos. Sem dúvida, um preço demasiado elevado. O senhor Erdogan, que governa a Turquia de forma pouco democrática, terá a grande festa preparada.
Paula FerreiraApoucar não tem graçaNão é o facto de um grupo de toureiros anões dar um espetáculo numa localidade portuguesa que me surpreende. O que deveras me espanta é haver gente capaz de rir perante a perseguição dos touros aos anões. Grotesco espetáculo, digo, sem precisar de o ver para o qualificar deste modo. Ocorreu ontem, na Benedita, discreta vila do concelho de Alcobaça.
Paula FerreiraNegócios na SaúdeA lua de mel dos portugueses com o Serviço Nacional de Saúde parece estar a chegar ao fim, caminhando a passos largos para o divórcio. Finda a pandemia, que transformou os profissionais de saúde em heróis, as urgências fecham por falta de médicos especialistas, o que inviabiliza as escalas necessárias. O défice de médicos sente-se maioritariamente aos fins de semana e feriados, aparentemente, por estes não se mostrarem disponíveis a trabalhar a troco de baixa remuneração.
Paula FerreiraPraça Lenine e a Rússia no PortoHá anos, de férias em Cracóvia, visitei o Bairro de Nowa Huta. Para lá chegar, todavia, houve grande dificuldade: ao perguntar pelo transporte que deveria usar, os polacos olhavam-me com certa animosidade.
Paula FerreiraO Dia da Europa em guerraO fim da II Guerra Mundial, em maio de 1945, havia deixado a esperança de que nada semelhante voltaria a solo europeu. Vã esperança. A humanidade, ou a falta dela, continua a surpreender pelas piores razões.
Paula FerreiraContra o esquecimentoUm homem e uma mulher. Em comum um passado marcado pela prisão e pela tortura. Que crimes cometeram? Lutaram contra a Censura, contra a Guerra Colonial. Hoje, 48 anos depois do fim da ditadura, Maria José Ribeiro e José Pedro Soares continuam a lutar. Agora, contra o esquecimento: para que a memória nunca se apague, porque nada está garantido.
Paula FerreiraSintonia absolutaAs linhas gerais do Orçamento do Estado para 2022 foram ontem apresentadas aos partidos. Embora este fosse um documento conhecido - foi o seu chumbo que levou à queda do Governo e António Costa tivesse garantido, após a conquista de uma maioria absolutíssima, que não prepararia outro -, o Mundo trocou-lhe as voltas, a guerra na Ucrânia obrigou a alguns retoques.
Paula FerreiraContra a escalada verbalParece surgir, finalmente, algum bom senso. Não sabemos o que se discute nos bastidores, e muito deve ser discutido. No entanto, o que tem vindo a público no palco desta guerra, em direto nas nossas casas 24 sobre 24 horas, são declarações contrárias a uma solução para o conflito. A visita de Joe Biden à Europa e sobretudo as suas palavras proferidas na Polónia são mais gasolina atirada para um fogo já de si descontrolado.
Paula FerreiraLutemos pela pazO ataque à base militar de Yavoriv, que ontem provocou dezenas de mortos e feridos, é o sinal de que a guerra entrou numa escalada cada vez mais perigosa.