A convite do Conselho Regional de Engenharia do Paraná, Brasil, para palestrar sobre o tema Acessibilidades e Mobilidade, recordo a cidade de Curitiba quando estive sentada com Jaime Lerner, na sua sala de reuniões, frente ao frondoso jardim interior do seu escritório. Um dia deveras especial para quem, como eu, sempre admirou as suas obras e o seu percurso de vida técnico e político.
Passados cinco anos, estava ali, na mesma cidade, mas Lerner, infelizmente, já não, para juntos a revisitarmos. O último livro que escreveu e que gentilmente me ofereceu, intitula-se "Quem cria, nasce todo o dia". Foi exatamente o que senti nesse encontro, pelo mais profundo gosto com que se referia à nossa profissão.
Falamos de mobilidade e desenho urbano. Do planeamento e medidas de acupuntura urbana. Recordo as suas sábias palavras sobre a importância de ter passado pela política e de, só aí, ter compreendido o processo envolvido na construção das cidades. Revi-me no que referia e na tese de que só seremos planeadores se conseguirmos sentir a carga humana que as cidades contêm.
Em Curitiba percebe-se essa escala humana na cidade inclusiva que se desenhou, e em todo o sistema de transportes públicos eficaz, seguro, confortável e integrado nas redes de mobilidade que irrigam todo o pulsar de cidade. Ao mesmo tempo, sente-se a aposta clara na estrutura verde que amarra essas redes de mobilidade suave.
É com este sentimento profundo do dever cumprido de quem planeou esta cidade, que carrego para o meu país vontades redobradas de trabalho efetivo, na melhoria do espaço público e das acessibilidades nas cidades que habitamos.
*Especialista de Mobilidade Urbana