Acidente numa passagem de nível com guarda em Caminha deixou menino de 12 anos totalmente dependente. Família luta para que seguradora "assuma responsabilidade".
Corpo do artigo
O dia 16 de dezembro de 2020 mudou para sempre a vida de Martin, de 12 anos. E dos pais Amaya Guterres, 43, Paulo Fonseca, 44, e dos três irmãos Paulo, 14, Ricardo, 17 e Diogo, 19.
Uma boleia no carro da mãe de um amigo da escola foi-lhe fatal. Numa passagem de nível com guarda em Caminha, a viatura foi violentamente colhida por um comboio. A condutora e o filho saíram ilesos, mas Martin sofreu lesões graves a nível cerebral e cervical. Ficou dependente (está traqueostomizado, alimentado por botão gástrico e tem tetraparesia). Não anda, não fala e está ventilado 24 horas por dia.
"Começou a sorrir há dias. Ia no carro com o avô, que cantou a canção que antes cantavam os dois. "Martin sorriu pela primeira vez", contou ao JN a mãe, que esta semana expôs o caso nas redes sociais. Adiantou que "reage a músicas que gosta, do Agir, Virgul e Chico da Tina, a malandrices e conversas dos irmãos".
Um grupo de amigos criou a página "Martin o Guerreiro" no Facebook com o objetivo de ajudar, enquanto a família enfrenta uma batalha com a seguradora para que esta "assuma responsabilidades".
"A condutora não se deu como culpada e tem de haver apuramento de responsabilidades. Isso demora. Entretanto, o apoio é pouco. Felizmente, temos alguns recursos, mas as despesas são incomportáveis", refere Amaya, acrescentando que "[da seguradora] apoiam numas coisas e noutras não. Precisamos, por exemplo, de uma cadeira de rodas e de uma cadeira para dar banho ao Martin, e dizem-nos que é muito cedo para isso". E desabafa: "Acham que ele não vai resistir à chegada do inverno visto ser uma criança ventilada 24 horas".
mudança para braga
Nove meses após o trágico acidente, os pais, que viviam em Caminha e possuem uma quinta de eventos em Valença, mudaram-se para Braga. Martin está a ser tratado numa clínica privada de reabilitação naquela cidade.
Amaya e Paulo entendem que o acompanhamento nos serviços públicos se revelou "ineficiente", porque o filho é "considerado um caso perdido no qual não vale a pena investir nos centros geridos pelo Estado". Batalham agora para que a seguradora lhes proporcione condições financeiras para continuar a dar resposta à nova condição de Martin. O processo evoluiu após terem avançado com uma providência cautelar. "Assumiram um valor mensal e uma entrada, mas não é suficiente", afirma Paulo Fonseca, inconformado e revoltado com a situação.
No dia do acidente, foi dos primeiros a chegar ao local e a socorrer o filho. Diz que toda a sua luta tem como motor a esperança de "voltar a ouvir o Martin a chamar-lhe pai".
Martin jogava à baliza no Âncora Praia Futebol Clube, praticava remo, surf e skate. Saltava no trampolim, já tocava piano e bateria. A mãe descreve-o como "divertido, alegre e aventureiro".
Resposta da IP
Passagem de nível estava a funcionar
A Infraestruturas de Portugal (IP), adiantou, no dia do acidente, em comunicado, que a colisão entre o carro em que seguia Martin no banco traseiro e um comboio ocorreu "numa passagem de nível automatizada, com meias barreiras, devidamente sinalizada e a funcionar normalmente". O acidente ocorreu às 14.58 horas, na passagem que possuiu "sinalização e barreiras", em Cristelo, Caminha.
A reter
9 meses desde o acidente
O acidente aconteceu em dezembro do ano passado e só agora a seguradora do carro sinistrado deu resposta, após providência cautelar dos pais.