Feiras Novas: festa das concertinas "boa para negócio" e diversão até ser dia
A edição das Feiras Novas deste ano, arranca esta quarta-feira à noite à noite, em Ponte de Lima, com a abertura oficial da iluminação e um encontro de tocadores de concertina e cantadores ao desafio, que conta cerca de meio milhar de inscritos, mas costuma juntar muitos mais de modo espontâneo.
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Adão Moreira trincava alho cru, esta quarta-feira à tarde, enquanto observava a amalgama de gente que circulava na Avenida dos Plátanos, no centro da vila de Ponte de Lima, que nos próximos seis dias viverá mais uma edição das Feiras Novas.
Adão, de 75 anos, é vendedor de alhos e chegou na terça-feira de Almada. Assentou arraiais com um carrinho de mão cheio de alhos ensacados, que vende a dois euros o saco, embora os anuncie a 2,5 euros.
“Não quer alho, pronto, obrigada. É quase o dinheiro de uma permanente”, responde a uma mulher que pergunta o preço, mas vai embora sem comprar. Ao Jornal de Notícias, conta que abasteceu perto de tonelada e meia de alhos na Ericeira para escoar até segunda-feira. E alguns para ir rilhando para lhe dar saúde. “Por isso é que cheguei aos 75 anos”, ri-se, contando: “Aqui as pessoas já me conhecem. Conheço Ponte de Lima desde 1972. Já vendi muita coisa, chapéus, cobertores, colchas, mas agora só vendo alhos. E só venho às Feiras Novas e a Viana [romaria da Senhora d’Agonia]. Esta para o negócio é melhor”.
O CR7 das carpetes online
Adão é um dos cerca de 400 feirantes e outros comerciantes, e empresários de divertimentos, que estão a ocupar o extenso terrado de Ponte de Lima, numa das maiores e últimas romarias do Minho.
E há de tudo um pouco à venda. Manuel Ribeiro de 37 anos, de Darque, Viana do Castelo, é “vendedor online” de carpetes, mas estes dias deixa “as lives” para vender presencialmente nas festas de Ponte de Lima. “Venho cá todos os anos, porque é uma festa que mete muita gente e as pessoas aqui não vêm só para passear. Gostam de comprar. Para mim até hoje esta feira foi a melhor que eu vi para negócio”, disse o comerciante, que nas redes está como “Nelinho Bibia Bibia”, mas também adoptou outro nome.
“Sou conhecido como o CR7 das carpetes online. Foi um homem das ilhas que me chamou assim quando estava com quatro mil pessoas em direto”, conta, adiantando que, este ano, está com “muita expectativa” em relação a vendas “se o tempo ajudar”. “Nos últimos dois anos não vim prevenido com material e perdi muito de vender. Desta vez apostei e trouxe mais material”, disse.
Quem corre por gosto não cansa
A horas do arranque da festa, Ponte de Lima já fervilhava de gente. Ao longe já se ouviam concertinas. Um instrumento, cujo som emparelhado com os cantares ao desafio, é a alma da festa.
“Estamos a aquecer que vai começar”, contou Daniel Alves, de 25 anos, um dos tocadores e cantadores ao desafio das mais recentes gerações, que já tocava junto à “Casa do Porco Preto”, que abriu portas pela primeira vez esta quarta-feira e foi ponto de encontro dos primeiros “animadores” a chegar a Ponte de Lima. Até segunda-feira, serão centenas a animar arruadas e eventos.
“Os tocadores sabemos que nas Feiras Novas vamos ter seis dias de festa e que vamos ter que conseguir aguentar. Para nós é um gosto, quem corre por gosto não cansa. Dorme-se a correr”, diz Daniel, enquanto um tocador dos mais velhos, António Fernandes, de 75 anos, acrescenta: “Estes dias é tocar e beber, e pouco mais”. “Começamos a tocar de tarde e vamos pela noite dentro até amanhecer. A festa a nível da concertina e do povo é na rua. É a essência das Feiras Novas. A parte em que as pessoas interagem connosco, a dançar e a cantar, é a mais bonita”, afirma o tocador.
"Como o Carnaval no Brasil"
No café Central, no Largo de Camões, epicentro da romaria, o proprietário Diogo Cunha, tem a casa abastecida para o que aí vem.
“É uma festa que dá uma ajuda importante para o resto do ano dos comerciantes. Abastecemos bastante cerveja, outras bebidas e comidas. Agora é esperar pelas pessoas”, conta, acrescentando: “Temos preparados 40 barris de cerveja (50 litros cada) e espero que não chegue”.
Numa pastelaria movimentada da vila, um empregado brasileiro descrevia as Feiras Novas a duas clientes forasteiras: “Olha, é como o Carnaval no Brasil. As ruas lotadas de gente, de noite e de dia”.
