
Entregas ao domicílio
Maria João Gala /Global Imagens
A venda de ovos-moles, o doce típico de Aveiro, "praticamente parou" devido à pandemia, que provocou o encerramento de pastelarias e restaurantes, esvaziou a cidade de turistas e levou os clientes nacionais a refugiarem-se em casa.
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José Francisco, presidente da Associação de Produtores de Ovos Moles (APOMA), diz que as quebras foram "brutais" e só uns poucos conseguiram minimizar os prejuízos, caso da Fabridoce, que manteve as vendas para as grandes superfícies (ver texto ao lado), e estabelecimentos de renome como a casa Maria da Apresentação da Cruz Herdeiros, que passou a fazer entregas ao domicílio a clientes regulares.
"Estamos com quebras de 80 a 90% face a igual período do ano passado", conta Maria João Santos, gerente da casa Maria da Apresentação da Cruz Herdeiros, que teve de meter em lay-off 22 das 29 pessoas (algumas em part-time) que ali trabalhavam. Passaram de uma produção de uma tonelada por mês para 100 quilos e só não pararam totalmente devido à criação do novo serviço de entregas ao domicílio, que permitiu "minimizar" os prejuízos.
Ofereceram para não estragar
Quando foi decretado o estado de emergência e fecharam as lojas de venda ao público, a empresa tinha muita matéria-prima que havia encomendado antecipadamente por causa da Páscoa, como ovos, açúcar e farinha. Em vez de "meter tudo para o lixo", ofereceram os ingredientes com prazo de validade mais curtos a instituições e decidiram fazer "algumas massas" para "dar resposta aos clientes regulares" que ligavam a saber se estavam abertos.
O serviço de entrega ao domicílio, sem custos acrescidos, teve adesão e, durante o estado de emergência, chegaram a fazer "30 entregas por semana", entre ovos-moles e outros bolos típicos. Na Páscoa muitos puderam manter a tradição de ter ovos moles na mesa e, no Dia da Mãe, o doce serviu de presente. "No Dia da Mãe tivemos filhas que nos ligaram a encomendar e a pedir para entregarmos na casa das mães, com uma dedicatória, já que não podiam estar com elas", conta Maria João.
"Ideia fenomenal"
"Eu ia todas as sextas-feiras à loja e elas, simpaticamente, ofereceram-se para vir trazer, porque isto faz-me falta", conta Maria da Conceição, 72 anos, de Santa Joana, ao receber alguns doces em casa. Na Páscoa, graças ao serviço, teve na mesa ovos moles. "É uma ideia fenomenal. Já basta estar enfiada em casa tanto tempo, se não tivesse os meus ovos-moles e outros doces era ainda pior", acrescenta. Dali, Maria João segue para a União de Freguesias de Glória e Vera Cruz, onde vai entregar ovos-moles a Maria Helena, 76 anos, uma "cliente de toda a vida".
Procura manteve-se nos supermercados
As vendas de ovos-moles nas lojas ficaram praticamente "a zero", mas nos supermercados estão a "níveis semelhantes do ano passado", disse Rui Almeida, diretor da Fabridoce. "Houve um período de quebra inicial, mas por altura da Páscoa as vendas nas grandes superfícies retomaram e estão muito próximas daquilo que eram no ano passado, só com ligeiras quebras", concretizou ao JN. "Mesmo tendo as pessoas receio em sair e menos poder de compra, continuam a comprar na grande distribuição", um sinal "positivo" do apreço que têm pelo doce típico aveirense.
A pandemia levou a empresa a entrar em lay-off, mas as vendas para a grande distribuição ajudaram a minimizar o impacto. A empresa colocava, em média, cerca de sete toneladas de ovos-moles por mês na grande distribuição, sendo o Natal a época mais forte.
