Coautora de um estudo internacional sobre cyberbullying, Ana Almeida, investigadora de Psicologia da Educação e Educação Especial da Universidade do Minho, considera que o Ministério da Educação subestima o "bullying".
É falso que quando um jovem anuncia a intenção de suicidar-se nunca o fará?
É. No caso do "bullying", alguns investigadores, reconhecendo o impacto que essa experiência tem na vida dos jovens, criaram o termo bulicídio. O "bullying" pode, de facto, conduzir ao suicídio. Está demonstrada essa relação de causa-efeito?
É um fenómeno multideterminado. A qualidade dos relacionamentos e a rede de suporte são fatores a ponderar. Mas é verdade que há experiências tão negativas que as crianças sentem que não lhes resta outra alternativa.
A sensação de passividade por parte de pais, professores, funcionários, colegas, pode contribuir para isso?
Prefiro chamar-lhe dificuldade em vez de passividade. Muitos pais tentam acabar com a situação de fragilidade dos filhos, mas sentem-se impotentes. Por vezes é muito difícil alterar a situação. A pressão do grupo [agressor] é muito grande, a adrenalina que provoca a agressão gera contágio social e ao mesmo tempo banalização e minimização dos seus efeitos. É o que designamos como dessensibilização moral por parte do agressor e de quem vê.
Essa passividade, ou dificuldade, não é um risco?
É o maior perigo. Nunca podemos considerar uma situação de agressão ou humilhação normal. É sempre um comportamento continuado e deliberado em que há desequilíbrio de poder que atormenta a vítima. Esse comportamento é validado pelo ambiente e nem sempre condenado. É preciso um mecanismo dissuasor do "bullying".
Da parte de quem?
A escola tem de ter consciência do clima escolar para estudar as abordagens de prevenção. Está muita coisa por fazer. O Ministério da Educação devia integrar o "bullying" na sua lista de prioridades. O sucesso escolar é importante, mas impossível para todos se não houver bem estar e segurança na escola.
O "bullying", mesmo que seja temporário, deixa sequelas para sempre?
Depende da frequência e da gravidade. Mas a investigação diz que ficam sequelas, para vítimas e agressores.