Os eurodeputados portugueses contestam, numa carta dirigida ao comissário europeu das Pescas, John Dalli, a proposta que permite a adição de químicos no processo de salga de bacalhau, que está em análise na Comissão Europeia.
"Desconhecemos objetivamente o fundamento e os objetivos desta proposta apresentada pela Noruega, Dinamarca e Islândia, mas não podemos deixar de estranhar e denunciar que, nos termos em que é feita, afeta exclusivamente o bacalhau pescado no Atlântico Norte destinado a Portugal, uma vez que este é o único peixe que, depois de salgado pela cura tradicional portuguesa, apresenta um teor de sal superior a 18 por cento (entre 18 a 22 por cento), precisamente o valor especificado na proposta", denunciam os eurodeputados, no documento a que a Lusa teve acesso.
Os parlamentares estranham, por outro lado, "que se pretenda trocar um produto 100 por cento natural, com séculos de processamento absolutamente seguro para o consumidor, por um produto adulterado com químicos, os quais a própria Comissão reconhece que apenas 'a maior parte dos polifosfatos será removida juntamente com o sal aquando do processo de demolha'".
A proposta está a ser analisada pela Direção-geral da Saúde e Consumidores (Sanco).
Os polifosfatos em causa são o E-450, E-451 e E-452, cuja utilização, "no que diz respeito à saúde dos consumidores", não é consensual na comunidade científica.
Os deputados argumentam ainda que, segundo a proposta de Bruxelas, "a adição de polifosfatos teria como objetivo evitar a oxidação da gordura no pescado salgado o que, dado o bacalhau ser um peixe magro (teor de gordura da ordem dos 1-2%), não tem justificação tecnológica ou prática".
"A proposta da Comissão acarreta igualmente graves prejuízos para a economia portuguesa, afetando fortemente a sua indústria transformadora do bacalhau", denunciam os parlamentares, numa carta que será entregue em mão, na terça-feira, pela autora da iniciativa, Maria do Céu Patrão Neves (PSD), e a que aderiram os restantes 21 eurodeputados.
A carta reitera que Portugal "assume uma posição de enorme destaque ao nível do consumo mundial de bacalhau, o qual atinge cerca de 250.000 toneladas por ano".
A indústria nacional de transformação do bacalhau contabiliza 83 empresas responsáveis por cerca de 2.000 empregos diretos e muitos outros indiretos, e por um volume de exportações de 85 milhões de euros por ano.
"Os deputados portugueses ao Parlamento Europeu exprimem assim a sua indignação perante uma proposta objetivamente injustificada e explicitamente prejudicial para Portugal, pelo que apelamos à Comissão Europeia que retire definitivamente a proposta em questão", concluem os signatários.