Emoção, tristeza, quase choro. Foi um Jorge Gabriel de rosto pesado aquele que participou, esta quinta-feira à noite, na vigília a favor da produção do programa "Praça da Alegria" nos estúdios da RTP no Monte da Virgem, em Gaia. Ao fim da tarde, algumas centenas de pessoas - trabalhadores, amigos, espectadores - concentraram-se frente às instalações e à volta de um lema: "No Porto... todo o país!".
A vigília ocorreu quase uma semana depois do anúncio, feito pela Administração da televisão pública, de que o programa matinal "Praça da Alegria" vai passar a ser produzido em Lisboa. Em princípio, já em Janeiro.
"São milhares os idosos solitários que nos assumem como a sua única família", disse Jorge Gabriel, protagonista da intervenção mais emotiva da manifestação. Em declarações aos jornalistas, o profissional que apresenta o programa ao lado de Sónia Araújo deixava depois um recado: "Os que julgam que o Norte vai ficar mais coxo, menos empreendedor e menos empenhado podem desenganar-se".
D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, afirmou sentir "uma raiva muito grande". No seu entender, a medida anunciada pela RTP está enquadrada "num programa nacional dos que nos governam de esvaziamento do que é a alma do povo, daquilo que é a alma de Portugal". Ao falar da sensação de "país alugado", numa alusão ao que se passa com a TAP e com a RTP, D. Manuel Martins concluiu: "O nosso Norte está há muito tempo a ser esvaziado de tudo o que o caracteriza".
Entre os participantes estava também o chefe de cozinha Hélio Loureiro, que vai ao programa às terças-feiras, de 15 em 15 dias. Ao JN, afirmou estar chocado com a deslocação da produção para Lisboa, dizendo que isso "é silenciar a voz do Norte". Além de condenar a centralização e de prever perda de visibilidade para a região e para o país, referiu-se ao papel da rubrica junto das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. No seu entender, "deslocalizar um programa que representa uma grande fatia dos nossos emigrantes é perder um pouco da nossa cultura também".
"Claro que me entristece toda esta situação", confessou-nos, por seu lado, Pimenta Alves. O diretor do Centro de Produção do Norte da RTP mostrou-se convicto de que haverá "uma solução de continuidade para que esta atividade possa continuar a existir e este centro não acabe".
No manifesto distribuído na vigília, refere-se que o programa é, a nível de entretenimento, "o mais rentável da RTP", tendo gerado um lucro de quase quatro milhões de euros em 2011.