O PCP diz que o Governo anda a "brincar" há meses com os médicos e que tem uma política de "desvalorização" dos profissionais de saúde, defendendo a anulação imediata dos concursos de recrutamento através de empresas de trabalho temporário.
"O Governo anda há muitos meses -- cinco, seis meses -- a brincar com as estruturas representativas dos médicos (...), fazendo de conta que quer negociar mas não negoceia nada, antes pelo contrário. E depois, para além de não negociar, avança com medidas como esta do concurso para a contratualização de 2,5 milhões de horas de trabalho médico em que o critério fundamental, aquele que decide, é o valor mais baixo por hora pelo serviço prestado", ", afirmou Jorge Pires, da Comissão Política do PCP, em declarações à Agência Lusa.
Os sindicatos dos médicos convocaram uma greve para 11 e 12 de julho, que tem o apoio da Ordem dos Médicos. O fim do concurso de aquisição de serviços médicos é uma das 20 exigências na base da paralisação, que recusa "as múltiplas e graves medidas governamentais de restrição no acesso aos cuidados de saúde". No pré-aviso da greve, os clínicos identificam como um dos objetivos deste protesto a defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"Os médicos têm toda a razão, nós apoiamos os médicos nestas suas reivindicações, nesta forma de luta que encontraram e nas outras que certamente vão ter de encontrar até que o Governo recue nos seus propósitos de desvalorização profissional e social destes profissionais", acrescentou Jorge Pires.
O dirigente comunista destacou que os médicos são "altamente qualificados", afirmando que precisam de pelo menos 12 anos para se formarem e que, desde que o Governo PSD/CDS está em funções, perderam cerca de 30% de "massa salarial".
Porém, acrescentou, são tratados como se fossem uma "mercadoria" por "um Governo que tem um objetivo em mente, destruir o Serviço Nacional de Saúde".
O Governo "há muito que sabe que é por aqui, ou seja, é pelo fim das carreiras médicas, que pode fazer com que muitos médicos saiam do SNS", uma vez que deixam de ter possibilidade de progressão ou condições para a formação, a que se juntam salários "mais baixos, muitas vezes, do que no setor privado".
Os comunistas defendem, por isso, a anulação dos concursos de recrutamento de médicos, enfermeiros e outros profissionais "a empresas de mão-de-obra temporária" e a realização de concursos públicos para responder às necessidades de profissionais no SNS.
Jorge Pires deu como exemplo a questão da falta de médicos de família, problema que o Governo "pretende resolver" através do "adormecimento de centenas de milhares de utentes, expurgando-os das listas e pelo aumento ilegal do número de utentes por médico, ultrapassando os 1550 acordado, em vez de abrir concursos de recrutamento para colocar jovens médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar".
"Este é mais um exemplo de uma política irresponsável e de desprezo pelos portugueses", sublinhou, apelando "aos utentes que se associem à luta dos médicos".