A igreja de Nossa Senhora da Graça existiu onde agora está o edifício da Reitoria da Universidade do Porto.
Era templo muito antigo e era indiferentemente referido como Igreja de Nossa Senhora da Graça; Igreja de Nossa Senhora da Graça e de S. Sebastião; ou, simplesmente, Igreja de S. Sebastião; mas também Igreja do Colégio de Nossa Senhora da Graça dos Meninos Órfãos, por estar anexa a esta instituição (ver caixa, abaixo).
A actual Praça de Gomes Teixeira, devido à proximidade com aquela instituição, teve, em tempos idos, a denominação de Largo dos Meninos Órfãos ou Largo do Colégio de Nossa Senhora da Graça. Só posteriormente se passou a chamar Praça do Pão, Largo da Feira da Farinha, por se fazer ali um mercado deste tipo, e, mais recentemente, Praça dos Voluntários da Rainha e Praça da Universidade. A actual designação é muito recente.
Não era templo sumptuoso. Por uma descrição que dessa igreja existe, a propósito de umas obras que nela se fizeram em 1650, sabe-se que, nessa altura, era "… de fábrica modesta, de exíguas dimensões e, além disso, tão velha e arruinada que naquele ano fora preciso reedificar-lhe as paredes porque pela muita antiguidade que tinham, ameaçavam ruir…"
Modesto era também o seu interior.
De cada lado do altar mor "havia dois sepulcros metidos na parede" que, a avaliar pelas inscrições de cada um deles, deviam "pertencer a gente nobre". No pavimento da nave da igreja havia "outras sepulturas, uma das quais com um rótulo escrito em gótico…"
No altar mor estavam expostas à veneração dos fiéis as imagens de Nossa Senhora da Graça e de S. Sebastião que eram, afinal, os oragos ou padroeiros do templo.
A imagem de S. Sebastião, muito antiga, ostentava uma chave dourada presa da seta que trespassava o "coração" da escultura.
Diz uma antiga tradição que a chave pertencia à Porta do Olival, que ficava por ali muito perto, e que fora colocada na referida seta por devotos da cidade no tempo em que esta fora invadida por uma peste. Era uma forma de pedir ao santo que protegesse o Porto da epidemia.
Além do altar mor a ermida tinha mais dois altares laterais, um dedicado a Santo António outro ao Senhor Santo Cristo.
E era aqui que o cronista pretendia chegar para tentar satisfazer a curiosidade de um leitor que mandou mail e pedir informações sobre a origem dessa imagem que, diga-se desde já, era motivo de grande veneração por parte de um elevado número de devotos frequentadores assíduos da igreja em questão.
Segundo uma piedosa lenda a imagem do Santo Cristo veio para o Porto em remotas eras, trazida por um numeroso grupo de cristãos ingleses que deixaram o país de origem para fugirem a perseguições religiosas.
Há uma curiosa narrativa muito semelhante e, provavelmente, com ligações a essa piedosa lenda mas que a tradição popular diz ter tido como ponto de ligação a capelinha de Nossa Senhora da Ajuda, que fica nas proximidades do actual Largo de António Calem na margem direita do rio Douro.
Diz essa lenda que em data remota que não é possível determinar com total certeza, entraram na barra do Douro nove navios ingleses e que um desse barcos, quando passava diante da referida capelinha, parou de repente e por mais manobras que o capitão e respectiva tripulação ensaiassem o navio não se movia e mantinha-se estático como se estivesse preso a uma âncora que tivesse agarrado firme o fundo do rio - o que não era o caso.
Os restantes navios continuaram a subir o Douro sem qualquer problema.
A bordo do barco que, digamos assim, se recusava a continuar a viagem vinha um belíssimo crucifixo que um grupo de cristãos ingleses havia conseguido salvar das perseguições dos hereges.
O comandante do navio ligou a paragem abrupta deste, no meio do rio, à presença a bordo da imagem de Cristo Crucificado que acompanhava o tal grupo de cristãos ingleses.
De imediato deu ordem para que o crucifixo deixasse a embarcação e fosse levado "com toda a dignidade e respeito" para o interior da capelinha da Senhora da Ajuda.
E mal essa tarefa ficou concluída, o barco de imediato retomou o seu rumo rio acima sem mais problemas.
Entendeu-se na altura que a paragem súbita do barco fora um aviso divino em que estava explicito o desejo de a imagem ficar na capela de Nossa senhora da Ajuda.
Haverá alguma relação entre o Santo Cristo da igreja de Nossa Senhora da Graça e o crucifixo que se recolheu à capela de Nossa Senhora da Ajuda ?
Parece que não. Não se trata de um só caso. Isto é: a imagem do Santo Cristo que os fiéis veneravam na igreja da Graça não devia ser o mesmo que estava na capela de Nossa Senhora da Ajuda. Nada há que comprove essa ligação. E embora as histórias sejam da mesma época e o fundo moral de ambas coincida, o mais provável é que se trate de narrativas diferentes embora vividas na mesma época e pelos mesmos motivos mas, provavelmente, por diferentes tipos de pessoas .
