Quando se fala do Novo Acordo Ortográfico, muitos são aqueles que ainda se opõem e se recusam a escrevê-lo. Ora, cada um é livre de escrever como quiser, mas nenhum de nós poderá mudar regras ou leis que já estão em vigor desde janeiro de 2009.
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Aquando da reforma de 1911, Bernardo Soares, heterónimo de Fernando Pessoa em o Livro do Desassossego dizia o seguinte sobre a substituição do "y" pelo "i": Minha patria é a lingua portugueza. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente. Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa propria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ipsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse."
Embora haja sempre pessoas que resistem à mudança, por motivos diversos (receio de não saberem escrever pelas novas regras / ligação emocional ou intelectual à memória gráfica da escrita), a língua evoluiu e esperemos que continue a fazê-lo, pois é sinal de vitalidade, de dinamismo, de energia.
E assim é. Atualmente, a nova grafia tenha conquistado os seus utilizadores na sociedade lusófona.
Ao nível do ensino, a nova grafia está praticamente implementada e todos os manuais, exceto os de 9º e 12º ano, que serão atualizados no próximo ano letivo, seguem as novas regras. Relativamente aos meios de comunicação social, são raros os casos que seguem a grafia antiga. As grandes empresas, públicas e privadas, adotaram também o novo acordo.
Renunciar a certos hábitos gráficos não é nem mais nem menos científico do que seguir uma grafia dita etimológica que, para o ser verdadeiramente, exigiria o regresso puro e simples a outras práticas há muito abandonadas.
E o maior argumento está relacionado com a supressão das consoantes mudas, para indicar que a vogal anterior átona é aberta. Ora, é preciso não esquecer que, em Portugal, escrevemos "corar", "caveira", "credor", "geração", quaresmal, "retaguarda", "agachar", "relator", entre outras, generalizadas com vogais átonas abertas, e que não são assinaladas por "letra muda", nem qualquer outro sinal gráfico.
* Professora de Português e formadora do acordo ortográfico