A ideia surgiu quando Isabel Soares, 31 anos, então a viver em Barcelona, viu vários documentários sobre desperdício alimentar e começou a questionar-se sobre a razão por que tanta fruta e legumes eram deitados ao lixo, dados ao gado ou simplesmente ficavam a apodrecer nas árvores e na terra.
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No Natal passado, quando veio de férias, questionou diretamente um tio agricultor da zona de Viseu e confirmou que havia muitas toneladas de fruta e legumes que não eram escoados, simplesmente porque não cumpriam os calibres estipulados pela grande distribuição.
A questão pareceu-lhe "ilógica" e começou a pensar que tinha de se pôr um ponto final nisto. Quando se deparou com o anúncio do concurso "Ideias de Origem Portuguesa", lançado pela Gulbenkian no início do ano, pensou que essa podia ser uma boa oportunidade para dar o pontapé de saída. E a conquista do segundo lugar no concurso (prémio de 15 mil euros) permitiu-lhe (e aos três amigos com quem apresentou a candidatura) começar a pôr de pé o projeto.
À caça de crowfunding
Com esse dinheiro, montaram a estrutura, compraram uma carrinha onde vão buscar os produtos aos agricultores e estão a preparar uma página na internet que tencionam que sirva como plataforma onde os clientes façam as encomendas semanais.
Contudo, o arranque está orçado em 23500 euros e continuam à procura de verbas: têm em curso uma campanha de crowfunding destinada a conseguir mais 4500 euros e querem arranjar mais apoios. No entanto, para já, só Isabel trabalha a tempo inteiro na cooperativa e ainda não conseguiu tirar um mês de ordenado. As suas contas dizem que precisará de 300 sócios para o poder fazer.
Já têm lista de espera
A cooperativa começou na semana passada a vender os primeiros cabazes de fruta e legumes "feios", para já"apenas no Intendente, em Lisboa. São produtos de igual qualidade aos vendidos nos supermercados que só não chegam às prateleiras porque não têm as dimensões que a grande distribuição convencionou comprar. Tudo porque os consumidores se habituaram a comprar legumes e fruta "bonitos", deixando de fora os que têm outras dimensões e criando desperdício aos agricultores.
Para já, a Fruta Feia tem 12 produtores associados (maioria da região Oeste), mas continua à procura de mais (particularmente de hortícolas) para poder continuar a crescer e abrir mais delegações em Lisboa. E depois, quem sabe, ao resto do país.
Tem 120 consumidores associados (e uma lista de espera que vai crescendo à medida que o projeto se torna conhecido). Mas só poderá aceitar mais sócios à medida que tenha uma diversidade de produtores que lhe permita assegurar a distribuição semanal de alimentos em cestas de três, quatro ou de sete, oito quilos, "a metade do preço do supermercado", afirmam.
Na primeira semana, Isabel estima ter evitado o desperdício de 635 quilos de horto-frutícolas. E a quantidade irá aumentar à medida que forem abrindo mais delegações, havendo já um potencial interesse da Junta de Freguesia da Lapa. O objetivo é fazer a distribuição em espaços cedidos (para evitar pagar aluguer e, com isso, aumentar o preço dos produtos). E, a pouco e pouco, "conseguir mudar a consciência dos consumidores ao ponto de deixar de haver fruta feia e fruta bonita", dizem.